domingo, 25 de abril de 2010

88. MÃE, QUERO VOCÊ SÓ PRA MIM!


Quando a gente passa por um câncer de mama e tudo o que isso significa – milhares de exames, quimioterapia, radioterapia, cirurgia de mastectomia, cirurgia de reconstrução, ufa!, É um período da vida no mínimo, emocionante. Normalmente os nossos familiares passam por isso junto, ali do nosso ladinho, às vezes atrapalhando, vezes dando força e às vezes não fazendo nada. Alguns deles ficam doentes junto com a gente e outras vezes os colocamos doentes juntos. Isso é um perigo. É muito difícil para uma família viver um câncer, ele pode facilmente desestruturar a rotina que ia ali numa vidinha sem muitos sobressaltos a não ser os de sempre. Tem família que o câncer dá uma sacudida, uma reviravolta louca, algumas pendem para o bem e outras para o mal, mas nenhuma passa ao largo, jamais a família será a mesma. Aqui mesmo no blog já ouvi relatos dos mais diversos, de marido que não sabia o que fazer com a mulher mastectomizada, da mulher mastectomizada que deu um pé na bunda do marido, da filha que estava com medo de perder a mãe, de casal que mudou totalmente de vida, enfim, de tudo!

No caso da minha família nuclear - pai, mãe, irmãos, sobrinhos, cunhado – nós já estamos, digamos assim, experientes. Vivemos dois processos bem distintos: o meu câncer, que começou em maio de 2008 e neste momento não existe mais (espero que nunca mais, toc, toc, toc...), e o do meu pai, descoberto em janeiro de 2010 e infelizmente vencedor em setembro do mesmo ano, quando o meu pai faleceu em casa, ao lado dos filhos e da mulher. Nos dois casos, é claro, começamos a briga em posições diferentes. O meu, desde sempre soube que era controlável, o que me permitiu sair por aí, lá, lá, lá, lá. Já o do meu pai foi uma bomba relógio, o víamos definhando a cada dia, ele foi perdendo a esperança, o olhar ficou mais distante e a fisionomia mais tensa pela dor que sentia. Foi muito triste vê-lo indo embora e aí que penso na minha mãe, que passou por 02 cânceres, um com perda ...É preciso ser macha!!! E a D. Rose é cascuda! Perder um companheiro de 48 anos e ainda apaixonado deve ser de danar! É preciso ter paciência para o tempo agir e as lembranças boas possam ressurgir. Mamãe é uma pessoa de muita energia, como já falei aqui tem uma força de “bateria de escola de samba”, inclusive é meio barulhenta, meio italiana, um bom humor (com exceção quando é acordada!), mas vai do bom humor ao drama numa velocidade estonteante, chega a ser engraçado! Quando fica quieta, calada, sorumbática, pode ter certeza que ela está triste.

Estou falando da minha mãe porque esses dias sozinha com a Elisa foram bem interessantes para nós. Ficávamos juntas todo o tempo, percebi claramente como ela amadureceu, o quanto a minha doença mexeu com ela, conversávamos como adultas.

E foi aí que senti muitas saudades da minha mãe. Como deve ter sido difícil pra ela acompanhar todo o meu processo, como deve ser difícil viver com possibilidade de perder um filho, afinal, o câncer mata, e como mata. Foram 02 anos muito difíceis para a Rose...

Bom, tudo isso pra dizer que a próxima viagem seremos eu e ela e será para Buenos Aires! A cidade tem duas coisas que mamãe adora: uma comida espetacular (demais!), e o como o nosso dinheiro está forte e o peso baixo, estamos com um poder de compra considerável! E ainda tem o tango, mamãe ama dança.

Uma viagem será muito bom para renovarmos nossos votos de mãe e filha, amigas para sempre.

domingo, 18 de abril de 2010

87. Férias na Patagônia?! Terra do Fogo é o RJ!




Resolvi tirar umas férias, merecidas claro, por 10 dias com a minha filha e cá estamos na Patagônia! Acabei de ir ao Parque Glacial onde pude conhecer Perito Moreno, uma geleira assombrosa! E Esse teclado é maluco, portanto ignorem erros primários. Talvez por ter passado a minha infancia (cade o acento?) em Manaus, onde a temperatura de 35 graus e mais a umidade do ar ñao sei quanto (ahahahahaha, ñao acho o til!) deixam a pessoa louca, no meu imaginário infantil as princesas sempre moravam em lugares com neves, exóticos e já na minha vida adulta, acessíveis ao meu bolso. Entao a Patagônia era um desses lugares, e realmente é incrível, nao me arrependi da escolha.



Por conta das minhas pequenas férias e das pequenas férias do meu médico em meados de maio, minha cirurgia de "lanternagem geral" (desenhar o mamilo e consertar o outro seio), vai ocorrer final de maio ou ou início de junho, quando todos os interessados (eu e ele) estaremos bastante descansados. Como essa cirurgia é o "ajuste final", será ótimo que vê-lo operando com um sorriso no rosto, típico de quem volta de umas merecidas férias.



Bom, e quando estamos de férias nos permitimos certas extravagâncias. No meu caso, que estou num lugar frio, os casacos pesam, a gente tensiona, bolsas pesadas, enfim, uma piscina aquecida no hotel é uma excelente pedida. Agora fala sério, (como fala Elisa), quem coloca na mala um biquini quando o destino é a Patagônia? Pois é, mas quem é o povo mais criativo (pelo menos é o que dizem) do mundo? Nós brasileiros. Pois bem, ñao vou dizer de que maneira, mas acabamos lá na piscina e eu me dei ao luxo de fazer uma massagem. Agora começa a nossa conversa...



Fazer uma massagem pós-reconstruçao (cadê o acento?) com uma pessoa que você ñao conhece e que fala outro idioma é no mínimo estranho. Ainda me recupero, a aparência ainda ñao é das mais agradáveis e tenho um pouco de fofinho nas extremidades dos pontos das costas, entao o Dr. Maurício até me indicou massagens, mas nunca pensei fazê-las em outro país.



Para completar, o clima seco daqui e a memória epidermica da radioterapia deixaram meio seio reconstruído bastante seco, entao uma dica importante: sabe aquele Biafine que você usou durante a radioterapia? Guarde-o, você vai usá-lo com certeza em outra ocasiao, caso contrário a gente parece que está trocando de pele mais uma vez .



E agora vem a parte mais comovente e incrível. Quando comuniquei a massagista a minha condiçao de recém operada, assim como numa "irmandade rosa" ela abriu a blusa e me mostrou a cirurgia DELA! Aquela senhorinha de 52 anos havia retirado sua mama esquerda há 04 anos e comemorava naquele dia 20 anos de casada. Nem preciso dizer que foi uma das melhores massagens da minha vida e que hoje tenho uma amiga na Patagônia! Seu nome? Beatriz. Nome de princesa.





obs. estou bem perto da Terra do Fogo, mas hoje é TERRA DO FOGO É O RIO DE JANEIRO!!!!! DO MEU QUERIDO BOTAFOGO!!! portanto, dedico este post ao meu Pai, que sempre me estimulou a ir bem longe, ao meu amigo querido Jê e as fogosas Bel, Teca, Virgínia e Isa.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

86. Quando a Arte imita a Vida



Acompanho com uma certa regularidade uma série chamada "Brothers and Sisters" que passa na TV a cabo e que na verdade é uma novelona. Como diz o título, é uma família de 05 irmãos (um já deu uma sumida, deve ter ido fazer outro programa) cuja mãe é nada mais, nada menos que a eterna "noviça voadora" Sally Field. Só quem é mais ou menos da minha idade sabe da importância da "noviça voadora" na nossa vida, intrépida freirinha que além de tudo voava! Por isso começei a acompanhar e agora danou-se. Pois então, uma das filhas da Nora (esse é o seu nome na série) a republicana Kitty, está com câncer e começa a passar por toda a angústia de uma portadora da doença. Não sei qual é o câncer dela (não sou tão fanática pela série!), mas ontem foi o dia em que ela raspou a cabeça para não ter que enfrentar a tão temida queda dos cabelos inerentes ao tratamento com algumas quimioterapias. E me emocionei. Quando meus cabelos começaram a cair e ficavam pelo travesseiro, nas roupas, nos rostos dos amigos quando ia dar dois beijinhos, e outras bizarrices que não vou mencionar, achei que já era hora de fazer o mesmo que a Kitty: tascar máquina neles! E foi isso que eu fiz, acompanhada de minha filha (que como toda adolescente só pensa nos cabelos) e de uma amiga querida. Já até postei aqui e como faz um certo tempo (meus cabelos já estão lindos!) já tinha um pequeno distanciamento da situação. Qual o quê: taqui ela de volta e ontem, apesar da baboseira que é um novelão como esse, me emocionei e lembrei que esse foi um dia especial na minha convivência amigável com o meu câncer. Naquele momento eu que eu raspei minha cabeça eu tive o controle da situação, foi uma opção e naquele dia eu realizei o inevitável, que toda a minha aparência iria sofrer modificações e que eu teria que lidar com elas da melhor maneira possível. Foi uma boa atitude, foi um bom ritual e foi um novo começo. E além de tudo, descobri que a minha cabeça era linda.