segunda-feira, 27 de abril de 2009

64.SRA MINISTRA, COM TODO RESPEITO...


Excelentíssimos Leitores deste blog...
Quando resolvi escrever aqui neste espaço pra chamar de meu, prometi a mim mesma, de pé junto, que jamais iria tocar em dois assuntos polêmicos, que são polêmicos em qualquer churrasco de amigos de amigos ou quando somos apresentadas à família do namorado: política e religião.
Vez por outra faço contato com uns santos, principalmente através do meu primo Públio, da tia Tânia e da tia Dodora, mas na maioria das vezes fico ali pelo lugar comum, acendendo uma vela pra Deus e outra pro Diabo, como dizem. Com essas coisas não se discute, e eu prefiro me manter assim: “No creo en brujas, pero que las hay, las hay “. (Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem). Bom,vinha me mantendo de boca fechada até que a dor da nossa Ministra candidata saiu no jornal. A Ministra Dilma Roussef está com câncer, como todos sabem, fato que foi fartamente noticiado pela imprensa neste fim de semana. É um câncer detectado no início, as chances de cura são em torno de 90% e ela certamente vai ter todo o tratamento digno de um cidadão brasileiro. Digno de um cidadão brasileiro que tem acesso ao tratamento, diga-se de passagem.
Aí que eu escorreguei e descumpri minha promessa.
Com todo respeito, Sra Ministra, será que a Sra, que é dona do $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$ do governo, acometida por esta doença tão “epidêmica” no Brasil, não se interessa em dar uma voltinha, meio anônima, pelos postos de atendimento de saúde do País? Assim, começando pelo Maranhão, por favor, onde o líder do Senado, José Sarney, mandou, manda e desmanda por tantos anos?
Com todo respeito Sra. Ministra, será que a Sra. pode fazer uma visita ao INCA e ver o esforço incrível dos profissionais que lá trabalham e quem sabe fazer um INCA em cada Estado Brasileiro, com um orçamento digno de quem é responsável e luta pela vida de tantas pessoas? Dê uma passada na ala infantil, é de doer o coração.
Com todo respeito, Sra.Ministra, a Sra. poderia dar uma voltinha nos laboratórios de pesquisa de algumas universidades brasileiras e se inteirar de estudos incríveis que estão sendo feitos por quixotescos pesquisadores que trabalham em condições precárias e ganham um salário inacreditável, menor até que o contínuo do Senado?
Vossa Excelência, com todo respeito, iria ficar de boca aberta, pasma mesmo.
A senhora teria idéia de quantas dores poderiam ser evitadas, de quantas famílias seriam poupadas de sofrimentos sem fim, e claro, se todos pudessem e tivessem direitos de ter diagnósticos precoces como o seu.
Um exemplo prático: meu pai, classe média, professor universitário aposentado, morador de bairro nobre de Niterói, precisa andar (ainda bem que de carro!) por uma hora para fazer uma sessão diária de radioterapia. Agora, Senhora Ministra , imagine o cidadão que serviu café na Universidade que meu pai deu aula em Manaus e que, por azar, teve um diagnóstico, não precoce óbvio, de câncer? Esse aí, coitado, se existisse fora da minha imaginação, com certeza já teria morrido faz tempo... e até hoje não saberia do que morreu.
Portanto, Senhora Ministra, transforme o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, carro chefe de sua candidatura à Presidência desta República chamada Brasil, em PAC do B – Programa de Amor ao Cidadão Brasileiro. Este sim, merece ser eleito.
Sra. Ministra, que Deus a proteja.

domingo, 19 de abril de 2009

63. Todo Dia, é Dia de Índio.






Fazia tempo que não lembrava que o Dia do Índio é 19 de abril.
Nas minhas brincadeiras de infância quando era bem criança sempre queria ser o índio. Gostava de usar pouca roupa e colocar folhas grandes presas na calcinha, feito uma saia ecológica. Na cabeça, uma outra folha de árvore mais exótica pra dar aquele ar mais “fashion” e um arco e flecha feito de uma vareta e um barbante mixuruca, logo abandonado pela incompatibilidade de andar de bicicleta e andar “armada” ao mesmo tempo.
Ao contrário da minha prima, de cabelos enroladinhos, pele branca, doce como mel e que sempre era a mocinha, eu era a “levada da breca”, e olhando hoje as fotos da família, volta e meia lá estava eu de cabeça quebrada, joelho ralado, enfim, o oposto da candura da neta primogênita do clã feminino que é a família de minha mãe. E o pior, nos colocavam roupas iguais, ficávamos um par de jarros estranhos, com “defeito”.
Eu era tão danada e tão ingênua que quando meus seios estavam nascendo eu jurava que era um furúnculo que vinha despontando e me pendurava chorando nos cabelos do meu tio Zizo quando ele me colocava à força pra dentro de casa e pedia em súplica que minha avó me colocasse uma camiseta e me prendesse um pouco em casa, pois “eu parecia um moleca de rua”!
Usava botas ortopédicas, que me faziam um ser mais estranho ainda, fora dos padrões “femininos”.
Tinha 9 anos quando nasceram os meus seios e a primeira menstruação veio no recém feito 10 anos. Virei mocinha num susto, e a condição de menina não era o melhor dos mundos pra mim, acostumada a liberdade de uma infância sem stress ou perigo.
Amanhã é o meu último dia da radioterapia, estou chegando ao fim do tratamento e me restam poucos passos para colocar a prótese, que me devolverá o seio e a suposta feminilidade que se perde quando se faz mastectomia. Pelo menos o que nos deixa mais apavoradas quando se recebe o diagnóstico. Mas, na verdade, nunca, nem um dia desses meus dias, me senti menos feminina, ou o se que convém chamar de feminino.
Não sei se foi a minha infância amazônica, a proximidade com a cultura indígena ou como eles povoam nosso imaginário, mas o fato é que sou grata a este povo livre de preconceito, livre de roupas e livre de padrões de comportamento e beleza que temos. Pelo menos os “meus” índios são assim. Eles me fortaleceram muito e me ajudaram a nunca me sentir “menos” por estar sem um seio. A liberdade e a felicdade que sentia quando me vestia de "'indio" vão me acompanhar por toda a vida, e me apego a isto quando sentir que "o bicho está pegando".
Pra mim, faz tempo que todo Dia é Dia de Índio.

Nota: na foto eu sou a da direita, com esparadrapo no joelho e botas. Ao fundo meus primos e de fralda minha irmã kekey.


quarta-feira, 8 de abril de 2009

62. MARCHA SOLDADO, CABEÇA DE PAPEL...

Dia Internacional de Combate ao Câncer
Dia Nacional de Combate ao Câncer
Dia Estadual de Combate ao Câncer
Dia Municipal de Combate ao Câncer
Dia Residencial de Combate ao Câncer
Dia Pessoal de Combate ao Câncer.

Todo o dia, o dia todo é Dia de Combate ao Câncer. É isso. Mas tudo bem, hoje é O Dia Internacional. Mas, esse nome, combate, me remete a uma memória, no mínimo curiosa.
Quando via aquelas Paradas de Sete de Setembro sempre me comovia com os velhinhos Ex-Combatentes. Eles foram lutar na Segunda Guerra e tinham feito bonito (ok, se é que se pode fazer bonito numa guerra), e, nas paradas desfilavam garbosamente, com uma medalha no peito e um orgulho danado. Certo eles.
Com o tempo eles foram rareando, foram morrendo de morte morrida e eu não vendo mais os desfiles, que pra mim, lá na infância, perderam a graça. Fui achando tudo aquilo uma bobagem, fui crescendo e tudo ficou distante, não tinha mais baliza, nem animais incríveis e fui me tornando uma pessoa mais à esquerda, aquilo era coisa da direita-corrupta-que-tomava-conta-do-país! Ahn, Ahn. Mas, puxa vida, é incrível, mas o orgulho dos velhinhos me marcou para sempre! Inclusive, no lançamento de um filme sobre o tema Segunda Guerra quase bati continência quando tive a oportunidade de conhecer um deles pessoalmente”. Ele tinha algo especial, andava de uma maneira especial, ele era um “EX-COMBATENTE”.

Pois hoje é o Dia Internacional de Combate ao Câncer e eu me sinto uma combatente de primeira, inclusive com um exército de cura respeitável, com medalhas, ordens ao mérito, e etc. Tenho companheiras de infantaria, colegas de artilharia, amigas de .. bom, não sou boa nessas coisas de hierarquias ou afins, mas que sou e somos combatentes, ah nós somos! Para cada uma das colegas de pelotão, uma medalha. Duas. Três. Quantas forem, não importa!
Agora entendo o orgulho deles marchando nas avenidas, cadenciados e em grupos impecavelmente fardados e elegantes, com a certeza de terem ganho a guerra e principalmente, de terem sobrevivido a ela.
Esta minha guerra aqui eu estou vencendo, e sei que muitas estão também, sozinhas ou ao lado dos seus maridos, filhos, amigos, pais, vizinhos, etc.
Espero que todas nós um dia sejamos ex-combatentes, não porque desistimos ou morremos, mas porque esta guerra não mais existirá.
Meninas, Avante!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

61. TEM DIAS QUE A GENTE SE SENTE....



Dia 01 de abril, dia da mentira.
Eu, logo hoje, tive uma vontade danada de sair soltando verdade pelas ventas, rasgar a fantasia, chutar o balde ou o pau da barraca, mandar sair da frente porque senão é pênalti.
O fato é que hoje me deu um mau humor danado, não conseguia explicar o motivo. Não era TPM, uhhhh, eu sei bem como é TPM. Não era nada especial, não tive pesadelo e nem dormi com a calcinha apertada, mas sabe aquela sensação de “todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às 6 horas de manhã”? Pois foi...E aí a coisa só piorava.
Da minha porta até pegar o carro na garagem foram duas rosnadas: A primeira com a minha gata Marrie, e pude sentir meus poucos cabelos mais arrepiados do que os pêlos maravilhosos dela. A segunda foi pra cadela “mala ’da minha vizinha, dessas que mais parece um rato (não a vizinha, mas a cadela) e cuja insistência em colocar um lacinho e um frufru a torna mais ridícula ainda. Não minha vizinha, mas a cadela.
Na garagem, o nada educado do outro vizinho (moro num prédio de 40 vizinhos!) que fechou a saída do meu carro e tive que ligar para “trocentos” apartamentos pra saber de quem era o tal “carro com insulfilme para proteger dos assaltos” que parou atravessado numa vaga ao lado da minha. Ah, e ainda deixei cair o celular num recuo que me fez perder uns minutos até achar algo fino que pudesse resgatá-lo, enquanto ele tocava desesperadamente e eu não podia ver quem era. Olha, o dia prometia e ainda eram 7:30 da manhã!...
Entrei no carro, enfim. Pude respirar fundo (mesmo dentro de uma garagem de prédio) e tentei me acalmar. Fiquei ali parada, com uma vontade de chorar muito grande, num misto de irritação, impotência e tédio. E aí chorei mesmo. De soluçar!
Na verdade estava indo para a minha 13* radioterapia (no total de 25), eu estava de saco cheio! Era isso. Estava de saco cheio desta rotina sem graça nenhuma que é de ir na radioterapia todo dia e fazer tudo sempre igual.
Como dizem, “quem não quer brincar, não desce pro play”. Era isso, hoje, definitivamente eu não queria brincar de ser uma paciente em tratamento de câncer! Mas não dá, né? Não sou burra...
Aí resolvi voltar pra casa e começar novamente o dia.
Peguei um papel e uma caneta e escrevi 04 coisas que eu gostaria de fazer antes do fim da semana, e resolvi:
1 - Ir ao cinema
2- Fazer um bolo de chocolate
3 -Contar pra minha mãe que eu não sou mais virgem
4- Escrever uma carta de amor e mandar pra minha filha pelo correio. Será a primeira carta (e talvez a última) que ela vai receber pelas mãos do carteiro de roupa amarela neste mundo de hoje cheio de email, orkut, facebbok, e etc.
Só sei que me fez um bem danado e pude sair mais feliz pra mesmice da minha radioterapia. E se cair de novo, normal, não sou de ferro. Choro outra vez, e relaciono mais 04 coisas que gostaria de fazer.
Hoje aprendi uma coisa importante: a gente tem que se curar pra poder se curar.