quinta-feira, 21 de maio de 2009

70. BOM DIA FLOR DO DIA!




Chegando no prédio do escritório alguém me chama com insistência: D. Clélia, ô D. Clélia! Parei e olhei até onde minha miopia pôde enxergar, espremendo os olhinhos até a pessoa ficar em foco. Toda espevitada, faceira, colorida, a mulher vem de braços abertos e coração idem. Ela, já colada em mim, me sapecou 2 beijinhos e aí eu pude reconhecê-la melhor. Era D. Raimunda, a minha mulher adotada! Fiquei impressionada com a sua mudança. Ela estava uma gata!
Explico: D. Raimunda, uma senhorinha de 52 anos, é a mulher que adotei na minha campanha “Adote uma possível portadora de câncer de mama”, lançada aqui neste blog no mês de dezembro de 2009.
A idéia surgiu depois que soube que toda mulher acima de 40 anos tem direito ao exame de mamografia de Graça! Isso mesmo que você leu!!! De graça. No mesmo dia soube outro dado bem assustador: Somos 60 mil mulheres por ano (volte duas casas e leia de novo para não esquecer!!!) Confirmando, 60.00 mil mulheres com câncer de mama. Agora, repita comigo, 60 mil. Camon evribari: 60 mil. Decorou? Pois então, é gente pra caramba, um maracanã lotado, final de campeonato brasileiro.
Juntando mais uma informação do tipo censo do IBGE de que as mulheres de baixa renda no Brasil são, na sua maioria, esteio de família, danou-se.
Elas que cuidam dos filhos, dão jornadas triplas de trabalho, e sem elas a família vai pro beleléu, trazendo mais dor aos que já nasceram desfavorecidos.
Pois bem, aí lancei a campanha, simples e direta: adote uma mulher e a leve pela mão ao exame.
Pode ser a mulher do porteiro, do zelador, a mulher que te atende na vendinha, a sua vizinha, a moça da limpeza do seu escritório, a diarista da casa ao lado, a zeladora da escola da sua filha, enfim, não precisa nem sair do seu bairro se não quiser ter trabalho. Mas mire numa e adote.
A maioria dessas mulheres não têm tempo nem para se olhar no espelho, imagina ir num posto médico fazer a mamografia? E tem a ignorância, o medo, a falta de dinheiro para pegar um ônibus, com quem deixar os filhos, quem vai fazer o jantar e blá, blá, blá.
Fale com ela da importância do exame, e se ela não der importância, apele. Fale nos filhos, no futuro, nos netos que ela vai ver nascer, e etc. Mas siga um roteiro e ajude de verdade: veja qual é a mamografia mais próxima, dê o dinheiro da passagem, cobre se ela já fez, veja quando ela fizer, morda e assopre, seja doce e firme.
Este era e é o mote da campanha e adotei a D. Raimunda, senhora simpática vestida no seu uniforme de limpeza nada sexy azul que sempre me dava um bom dia alegre e animado quando chegava no prédio do escritório. Dava pra ver que era uma senhora sofrida e apesar da pouca diferença de idade entre nós, já era avó de uma garota de 15 anos! Que ela sustentava! Pois a D. Raimunda nunca tinha feito nenhuma mamografia em toda a sua vida! Tinha tido 4 filhos e nenhum exame do útero! Tinha tido 03 maridos e só eles tinham tido acesso aos seus seios, nenhum médico (a) tinha chegado perto! Adotei no ato!
Em janeiro ela começou a fazer os exames e eu fiz a minha mastectomia. Nossos horários não coincidiam e ela deixava os resultados na minha sala. Fevereiro, março, oi D. Raimunda como vai, ta indo tudo bem, e aí? Abril, ela tira férias, “ótimos resultados, tudo certo graças a Deus, pressão um pouco alta, nada de grave, adorei a médica, muito obrigada, to rezando muito pela senhora”, e etc.
Maio. Corta para o início do post quando devolvo os dois beijos sapecados. Numa rápida conversa ele me diz que agora está inserida num projeto social da comunidade onde ela vive e que atende mulheres (corte de cabelo, manicure, trabalhos manuais, dentistas, esclarecimentos de saúde e direitos, etc). Já tinha levado mais de 10 mulheres ao mesmo posto de saúde onde tinha ido e estava feliz da vida. Nos abraçamos, ela me apresentou pra amiga que a acompanhava me colocando no céu, nos despedimos e me encaminho para o elevador.
Mais tarde encontro D. Raimunda, no mesmo uniforme azul nada sexy. Mas ela estava coradinha, o cabelo cortado com uma fivela prateada e um batom rosa claro. E até achei o uniforme um pouco mais sexy. Sem dúvida alguma coisa tinha mudado e eu fiquei muito feliz que tenha contribuído para isso. Ela me diz que todo dia reza pela minha saúde, que se eu precisar de qualquer coisa é só pedir. Ficamos ali mais um pouquinho e eu pensei cá comigo: não quero nada não D. Raimunda, ou melhor, Raimunda, só quero que a você continue me dando bom dia com esse sorrisão maravilhoso pela manhã. Ganhei a semana. Adote uma mulher você também e ganhe uma nova amiga.

6 comentários:

Menina Robô disse...

Ótima dica vc nos deu!

=D

Bjokas =*

Kariny

Virginia Barbosa disse...

Que lindo texto, Clélia, principalmente pela idéia. Mas, por favor! "senhorinha de 52 anos"? Assim não dá...acabei de completar 51, pôxa. bj.

Paula disse...

adorei, Clélia! valeu!

Natty disse...

Ui... Clélia, gostei mesmo do teu texto, uma ideia MARAVILHOSA, você deve ser uma MULHER PODEROOOOOOOOOOOSA, ainda bem... gosto!!! Agora essa de SENHORINHA... Querida!!! eu também tenho 51 ano... bem... e me acho uma jovensiiiiiiiiiinhaaaaaa...
Bijinho
Natty

Mylla Galvão disse...

A cada texto seu, eu me encanto mais e mais...
Você escreve muito bem! Expressa e envolve as pessoas com sua palavras, sem contar que em cada palavra sua, sinto uma força, uma vitalidade incrível!!!
Continue sempre assim!!!
Bjs

cayo costa disse...

Muito bom mesmo!!!