terça-feira, 30 de dezembro de 2008

37. TIM TIM ! UM BRINDE


Gostaria de fazer um brinde aos meus companheiros que me acompanharam com garbo e elegância no ano 2008. Meus lenços e meus chapéus, aqui representados pelos meus preferidos.
Tim, tim.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

36. QUE VENHA 2009!!!




Quando chega o final do ano sempre fazemos uma lista do que deu certo ou errado e também fazemos os planos para o ano seguinte, neste caso 2009.
Na maioria das vezes o nosso balanço do ano que passou é positivo, e se chegamos aqui escrevendo ou lendo este blog significa que estamos vivos, nem sempre vivinhos da silva, mas “positivos e operantes”.
No meu caso o ano foi mutiiiiito positivo, por incrível que pareça. Foi bom porque o câncer me deu a possibilidade de ver o mundo de outra forma, e me despeço de 2008 com uma vontade enorme de viver como há tempos não sentia.
Fiquei pensando no assunto e afirmo, que a última vez que senti algo parecido foi quando minha filha Elisa nasceu. Lembro que quando ela saiu do berçário para mamar pela primeira vez eu olhei para aquela pessoinha ali pequena e vulnerável, e para aquele rostinho doce e lindinho, e pensei: não posso morrer de maneira nenhuma nos próximos 15 anos!!! Pelo menos até que ela já possa se defender e aprendido um pouco mais do mundo e claro, que eu já tenha deixado uma previdência privada que garanta a sua formação até, pelo menos, o fim do ensino médio (na época segundo grau).
Amamentá-la foi o gesto que despertou em mim uma vontade de viver nunca sentida e de uma convicção inabalável .
Neste ano de 2008 que acaba, o peito cheio de leite que me fez ficar enorme e potente, é o mesmo peito que me faz novamente ficar enorme e potente e agora, pela falta dele. Porque ele se vai em breve, mas deixa na falta a mesma vontade de viver daquele dia, há 12 anos atrás. Ele se vai, mas com excelentes serviços prestados porque tenho certeza que a melhor coisa que fiz com eles nestes anos todos que eles estão comigo foi alimentar minha filha, como bem lembrou minha amiga Lulu.
Feliz 2009 para todos nós, que por motivos diversos, temos uma enorme vontade de viver.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

35. FELIZ NATAL !


Nossa, fiquei muito feliz com os encontros natalinos, me fizeram muito bem e força para começar 2009 com o pé direito. Fiquei mais disposta e com vontade de sair para ver os amigos, ir nas festinhas de fim de ano, happy hour com o "povo do cinema" - Marco, Vilma, Vera, Andrea, Glaucia, Jorge, Helena que é prima do Jorge, Gisélia, Erica, Anita, Flavia, Germana -, o café da manhã tradicional de natal da minha sócia, amiga e marida RRRRRRRRRRRRôse - Rosa, Tuco, Dandam, Mauri, Lulu, Fabi, Nina, Paola, Geraldinho, Alice, Natara, Tereza, Virginia, Alice 2, Cris, Imperatore, Perroni, Paola 2 , Tom Tom, Cézar, Vinícius, os meninos do escritório, enfim, cumpri todo o ritual desta data querida e estou feliz da vida, hô, hô. hô.
Ainda falta a festa da família, que vai ser o "Gran Finale"!

Feliz, Feliz, Feliz, Natal para todos nós!

sábado, 20 de dezembro de 2008

34.ACREDITE, ALGUNS AMIGOS INFELIZMENTE TAMBÉM PODEM TER CÂNCER.


Susto. Este foi o clima predominante da minha semana. Recebi um telefonema de uma pessoa muito querida, minha companheira de trabalho por aproximadamente 12 anos e mais 07 , de quebra, como amiga só e eventualmente colega de trabalho. O telefonema era quase tímido: e aí, como você está? E o tratamento? É mesmo? E a Elisa? E eu contando tudo, animadíssima, computador ligado na frente e mandando os emails enquanto respondia as perguntas que ela fazia, com pequenas variações das perguntas que muitos amigos fazem e eu já respondo no automático, não sem carinho claro e morta de alegre que tenham lembrado de mim. Fazem parte do grupo de resposta padrão, como naqueles sites que vem as “perguntas freqüentes”.
Aí de repente, parecia que me deram um “telefone” ou “sabacu” como dizem na minha terra, bem no meio das orelhas. “Sabe o que é”, continua ela com a voz mansinha que Deus lhe deu, num cerca Lourenço, ou seja , sempre arrudiando o foco da questão mais importante. Sabe o que é Clélia, relutei em te ligar por isso, mas eu também estou com câncer de mama . Falou assim na lata, o que me fez ficar tão destrambelhada que mandei o email que respondia, sem sequer checar se estava com alguma cópia oculta perigosa,tipo, uma amiga falando mal da outra e você no meio.
Puta merda, com licença da palavra, dá pra a entidade superior dar um tempo nesse assunto na minha vida? Caraça! Haja peito pra encarar uma história dessas.
Me aprumei na cadeira, entrei na pista rapidinho e fiz aquela pergunta também padrão para quem dá uma notícia desta natureza: Tem certeza?! E, em seguida, engatada uma na outra, a mesma frase padrão de uma hora assim... “vai dar tudo....”, e parei ali, no meio da frase! Não sou um ser superior para ficar adivinhando o futuro das pessoas e dizer vai dar certo em vão. Não que eu não deseje isto, pelo contrário, toc,toc,toc, mas juropordeus, pra mim foi muito chato ouvir isso quando recebi o meu diagnóstico, e tive que compartilhá-lo com outras pessoas que mal conhecia e por motivos dos mais variados. Na maioria das vezes soava que nem "puxa, como eu gosto de banana’, "que calor que está fazendo hoje, heim" ou algo assim. Esta segunda frase sim, não pode ser no automático.
Passado este momento de susto e perplexidade, veio a reação seguida: vamos lá, tem que ser rápida, que exames você já fez, quem é o oncologista, qual é o procedimento, qual a clínica, e etc e tal.
E aí a quarta feira engatou na quinta e na sexta, veio tudo na cabeça novamente, a minha dor nas pernas e meu inchaço voltaram, o astral baixou e fiquei com o coração apertado, triste por ela, cabisbaixa, como se tivesse perdido momentaneamente uma Capitã condecorada do meu exército de cura, afinal a Wanda é uma guerreira que esteve (está) sempre ao meu lado, mesmo que estivesse longe. Quando ela me ligava, eu perguntava na brincadeira e aí Wanda, tua mãe tá rezando por mim? Não sei o motivo, mas acho que a mãe dela tem o telefone vermelho do ser superior
Há um mês, exatamente, eu acabava a minha quimio e ela agora começava, e mesmo sabendo que ela está acostumada a vencer dificuldades, sei como ela se sentia nesta primeiro semana, o frio constante na barriga, o excesso de informação e das novidades que a gente vive, e então voltou tudo naquele momento. Ninguém está preparado para um diagnóstico de câncer, e mesmo que eu tenha "arrumado" uma maneira de lidar com o meu, afinal de contas acabei encarando com bom humor na medida do possível, existe também uma lista de sentimentos que se encaixam no padrão e no basição destes primeiros dias. Numa espécie de "variações"sobre o mesmo tema.
Agora já passou o susto e fiquei até orgulhosa da minha desenvoltura, podendo assim responder e me adiantar a várias perguntas que pulavam na sua cabeça. Falar do câncer segurando sua mão e a deixando mais tranqüila, descendo junto na enxurrada de novidades, medos e informaçãoes que ela foi obrigada a conviver sem querer. Mesmo um pouco capenga, faço parte do Exército de cura dela. Os nossos exércitos são aliados.
Tenho certeza que ela ficou um pouco mais aliviada, e eu também, de diminuir um pouco a loucura deste momento . Vamos nessa Wandinha, tô contigo e não abro, mesmo que seja pra te contar o final do filme.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

33.SEIO, SAUDOSAMENTE ME DESPEÇO DE VOCÊ


Posso ser muito cara de pau, mas começo a pensar no que vou fazer pré masectomia, marcada para o dia 15 de janeiro.
Além dos exames, claro, o que fazer com a filha que está de férias e que a empregada também, claro, o escritório que não pára porque você vai tirar o seio, claro, a alimentação vigorosa para uma recuperação espetacular, claro, e Oiêeeeeee, como me despedir dos meus seios, agora, que ainda são uma dupla e que se deram super bem nos últimos 35 anos?

Resolvi fazer uma lista pequena de 03 ítens.

Topless – Nunca tive coragem, esta vai ser a hora.
Foto do colo nu – Preciso fotografá-los no original, daqui a alguns anos preciso me lembrar como eles eram.
Olhar bastante no espelho – Todo dia, 3 vezes por dia, no mínimo.

Aceito sugestões.

domingo, 14 de dezembro de 2008

32. FRASE DO DIA


"A única profundidade que os homens admiram em uma mulher é a do seu decote”. Zsa Zsa Gabor
famosa atriz e socialite nascida no leste europeu e radicada nos Estados Unidos.
Fez mais de 30 filmes e teve em torno de 8 maridos.
Nossa mãe, será mesmo? estou ferrada nos próximos 6 meses..

sábado, 13 de dezembro de 2008

31.UNHA ENCRAVADA.. SERÁ QUE É CÂNCER?




De dois dias pra cá tenho me sentido meio mais ou menos, meio pau meio tijolo... assim, meio doente, sabe como? Peço licença para contar um pouco minhas mazelas, bem pequenas. Nesta semana, dia bonito, resolvi ir para a terapia de bicicleta. Peguei o MP4 da minha filha Elisa, o tênis que estava com saudades de dar uma volta na Lagoa, protetor solar, chapéu de Chicago que minha amiga Tissi trouxe pra mim e - bom dia Rafael, que calor heim, pois é o Vasco, e será que a Flora vai matar o Gonçalo? e tal e coisa. Na volta pego o jornal, tá bom?
Saí serelepe, me achando a atleta do século. Pois bem, 10 minutos e 03 músicas depois estava de língua de fora e as pernas não me obedeciam de maneira nenhuma, tinham vida própria e nem de perto combinavam com o meu estado de espírito. Num trajeto que fazia normalmente em 15 minutos fiz em 45, e ainda bem que saí com tempo, senão teria pago uma sessão de terapia só pra dizer tchau Leila, até semana que vem.
Cheguei lá no consultório quase carregando a bicicleta tamanha a dor que sentia nas pernas quando pedalava, num misto de muscular com ossos, estranhíssimo. Pois, já de volta em casa, depois de pedalar ou empurrar a bicicleta por mais 45 minutos, pensei, acho que um banho relaxante me fará bem. Fez. Saio para o batente e no final do dia os pés inchados e as pernas doendo mais ainda, mal conseguia subir a escada de 05 degraus da portaria do prédio, e ainda fui ultrapassada pelo casal de idosos simpáticos e animados que moram no andar de cima pra quem eu repetia sempre que encontrava: : "quando crescer quero ser que nem vocês"! Eles devem ter pensado: Du-vi-de-o-dó, essa aí?
Nunca fui de telefonar para o médico por qualquer coisa, sou produtora e não tem nada que me irrite mais do que um telefonema fora de hora e invasivo, sem motivos para tal. Eu e minha sócia e marida RRRRRRRoooose temos um acordo tácito, que nunca combinamos de fato mas é um forte motivo para estarmos juntas até hoje: depois das 22:00 e antes das 9:00 da manhã nunca ligamos uma pra outra à toa. Somos parceiras há 15 (14?) anos e conto nos dedos às vezes que isto aconteceu. Talvez por motivos fortes como: Oi Clélia, amanhã vou pra maternidade, a Rosa parece que vai nascer , então não vou ao escritório, ok? Ou, oi RRRRRRRRRRRôse, não vai dar pra ir com você na reunião amanhã, foi diagnósticado um câncer de mama em mim e acho que não vou estar concentrada o suficiente. É claro que estou exagerando (dã), mas é por aí.
Ela é diretora de cinema e tv, roteirista, escritora e artista, ou seja, tem todos os ingredientes para "dar defeito" mas acima de tudo tem respeito pela minha condição de produtora, ao contrário de muitos que andar soltos por aí. E como nós produtores, o médico come, tem família, namora, e de vez em quando tira aquela roupa branca e se torna outra pessoa. É bom respeitá-lo, e pensar 2X antes de ligar por qualquer unha encravada. Mas confesso, não agüentei e liguei. Quando a gente tem um câncer fica fácil pensar que vai ter mais um despontando em outro lugar. Tudo vira um “perigo”, e a gente fica com as antenas paranóicas ligadas! Qualquer coisa que a gente sente fora de contexto absurdo que já vivemos, pimba, acende o alerta vermelho e as sirenes internas saem pelos ouvidos.
Pois bem, liguei e "aí, pode falar?"Pós medicada e sem o desconforto que as dores estavam me dando antes , pensei: nossa, é o verão chegando por isso o pé inchado e é claro, as pernas um pouco mais enferrujadas que o normal e só. Dr. Eduardo disse que não tinha nada a com a quimio recém terminada e nem com o ciclo de 05 injeções "grandeloquinhas" que havia tomado . Sei que ele fica atento e eu também, ora pois, era só o que me faltava e um reumatismo (ou similar) agora, fala sério, como diz a Elisa e sua turma.
Resolvi relaxar e fazer um alongamentozinho básico e tomar uns muitos litros de água a mais que o habitual e sei que pequenos hábitos podem me ajudar bastante...Vamos a eles.
Peralá, xô paranóia ! Comigo não,violão. Agora, se aparecer de novo, e não conseguir falar com ele ( o que nunca aconteceu) acampo em frente em frente de sua casa e pronto! Simples.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

30. AINDA ESTOU COM MEUS SEIOS, E DAÍ?




Hoje fui na primeira consulta com o Dr. Maurício, meu mastologista gato, pós última sessão de quimioterapia. Fui com a minha marida RRRRRRRRRôse, fiquei com medinho de ir sózinha. Mas me sinto muito à vontade quando estou lá, o Maurício é todo equipado: laptop na mesa, um pen drive que trás sempre informações atualizadas do mundo inteiro sobre o assunto “mama”, vídeos que explicam tim-tim-por-tim a cirurgia, além de estar sempre elegantemente vestido.

Só tem um problema quando vou lá: o ar condicionado. Nossa Senhora de Copacabana, que frio! Fico com impressão que vou achar a D. Marlene (sua bem humorada secretária) congelada com o telefone no ouvido quando sair da consulta, e fico aliviada de não ter tido pneumonia durante todo o meu tratamento, quando minha imunidade estava baixa.

Mas o Dr Maurício me deu Good News. O fato é que os meu tumores, o Santa Maria, Pinta e Nina secaram igual uma uva passa e se mandaram, ficando somente umas calcificações, óbvio. Sendo assim vou tirar UM seio só e não os Dois! A cirurgia será dia 15 de janeiro. Não me perguntem por que, mas pra quem achava que ia tirar os 02, estou feliz pra burro! Estou no lucro. E estou clinicamente fora de perigo, que beleza, hu, hu, que beleza.

Não sei se foi a reza da turma de Manaus reforçada pela Tâninha, que é devota de São Judas Tadeu, ou o crédito do papai pela ciência, o pensamento positivo do Babá com medo de passar por tudo outra vez e agora com a sua prima preferida ou do Geraldo por mandar um f....-se, podem tirar até meu p.....!

Mas é claro, a quimioterapia prescrita pelo Dr. Eduardo ajudou bastante, e fiz tudo que ele mandou.

Então, quando botar o seio novo, faço plástica no antigo. Como estou careca e me despedindo dos peitos velhos, vou inventar uma personagem para este momento , Ipanema nunca mais será a mesma! E Finalmente farei topless no início deste verão, um desejo antigo, já que no próximo ninguém me reconhece mesmo :) !!!

Minha avó Maredina morreu há dois anos, e lembro sempre dela como aí em cima, aos 90 anos, e sempre faceira. A vovó era uma gata, de longe uma das mulheres mais lindas que conheci.
A tia Dodora falando comigo hoje lembrou de uma das suas máximas: “temos que ser vaidosas, cultivando a beleza do corpo, uma vez que ele é o templo da alma”, segurando a medalha da Igreja Messiânica.
Nunca concordei tanto com você vovó. Grande Maredina!

domingo, 7 de dezembro de 2008

29. LIVRE-SE DO CÂNCER E DOS CHATOS e VÁ PRA CASA DA NOCA


Nesta época do ano, como diz um amigo meu, todo dia é sábado! Realmente. É festa de fim de ano no escritório, na casa de algum amigo próximo, é bazar, é apresentação da filha na escola de música, no coral, ou até na acrobracia aérea, como é o caso da maluca da minha filha Elisa e da Eurídice, para minha apreensão e da Gláucia com as meninas penduradas em tecidos a 4 metros de altura. Tem os aniversários que caem em dezembro, como o da Noca, que naturalmente viram maratonas que começam no café da manhã e acabam no final do Fantástico. Haja fôlego! Na nossa turma de amigos chamamos até de Semana Comemorativa.
Algumas pessoas revemos somente nesta época, e no meu caso mais ainda, pela própria natureza da situação que vivemos quando tratamos de um câncer. A nossa rotina normal é modificada. E aí que entra a “diversão”.
Geralmente, quando estamos fazendo quimioterapia e usamos a cortisona, engordamos ou inchamos, certo? Pois então, acrescente neste quadro uma careca, tire a sobrancelha e os cílios. Montou? Pimba! Neste momento este é o meu caso. Uma pessoa mais gordinha e parecendo um personagem daquelas séries mal feitas, em que aumentam a orelha do cidadão e etc, como “Guerra nas Estrelas”.
Mas eu tiro a maior onda, até exerço bastante a criatividade com esses meus atributos novos, e alguns não tãoooooo novos assim, como o peso, por exemplo, que varia feito uma previsão de tempo. Os conhecidos que te acompanham vêem s mudanças, mas a maioria não. Eu uso uns lenços lindos que a Marcia me deu, uns batons bem vermelhos e pinto as pálpebras de preto, puxando para um olho meio gatinho, sabe como? Aproveito para experimentar estilos que não teria coragem normalmente, me divirto quando vou me vestir para sair, meu guarda roupa vira uma Disney! Acho que alguns vou até incorporar algumas peças quando tudo voltar pro lugar. Penso, estou com câncer sim, mas peraí, sem um pouco de vaidade, nunca!
Então, dia desses fui num evento aqui no Rio, uma espécie de bazar organizado pela minha amiga Zilda, uma idéia bem legal. Estilo moderninho, com livros, cd’s, roupas e bijuterias transadas, objetos estranhos e divertidos para o lar, e por aí vai. Ali, definitivamente, eu não era nem um pouco diferente.
Tinha um monte de conhecidos, alguns muito, outros menos e os que nunca vi. E nesta época do ano também vem o resumo editado, as pessoas chegam perto e comentam sobre o que fizeram, o que deu certo, que casaram, descasaram, escolhem a fofoca do ano, enfim, um encontro social nesta época normalmente se assemelha a uma retrospectiva superficial.
E eu, como estou meio sem fôlego, fico circulando menos. Normalmente sento numa cadeira confortável e fico observando o movimento, e como estou quieta, sempre vem alguém e senta ao lado.
E aí pintam os amigos, gostoso, mas na mesma proporção os que não se tocam e não são tão amigos, e alguns que não te conhecem. Esses então, como reclamam, valamedeus. É o trabalho que está um saco, é a filha que está impossível, é o marido que não comparece, é a empregada que roubou uma grana, é o cabelo que cortou errado, enfim, a futilidade comum de quem quer puxar papo e nunca te viu. No intervalo de comercial desta novela “incrível”da sua vida, como num lampejo de educação, lá pelas tantas, pergunta, e você, como está? Esta hora pra mim é como se fosse o final de capítulo da mesma novela, sabe como? Aqui fica o melhor! E me divirto com um sadismo de Odete Roitman misturado com o da Flora. Abro um sorriso bem grandioso, olho bem nos olhos e digo; Menina, que loucura, e eu que estou com câncer!
Silêncio. Riso amarelo. Olhar pertubado. Mão fora do lugar. Mas uma coisa que eu faço é segurar o meu olhar firme nos olhos da outra pessoa, senão não tem graça. Um minuto interminável e “puxa, preciso dar um telefonema, desculpe, um minutinho” e sai na carreira, sem antes dizer: ah, mas você vai ficar bem querida, incorporando um nostradamus básico. Depois disso, fica evitando cruzar o olhar com o seu, desconcertada. E aí é que eu olho mesmo! E, garanto, se fosse pressão alta, diabete, pedra no rim, síndrome do pânico, ou similar, com certeza a pessoa já engataria uma outra mazela, e não pararia de falar nunca mais! E tem mais, vou ficar boa sim, meu oncologista já garantiu, digo pra figura que já deu no pé e sequer ouviu.
Eta palavra mágica, câncer. Já que ele me veio me dar um susto, vou usá-lo até o fim! Exercito me livrando dos chatos e principalmente dos que alugam meu ouvido e ficam rodopiando em torno de si sem parar!
Obs: Noca seu aniversário foi muito agradável e inesquecível pra mim. Foi a primeira vez que fiquei careca na social com desenvoltura, uma delícia.
Sorry Marlene, não consigo chamar a Noca de Adriana, mas te juro que aproveitei toda a mordomia de seu lar, além de sua companhia agradável e do Almir. Desejo a você, Almir, Bruno, Lu e Bernando um 2009 repleto de alegria e com bons ventos.
Voltando, Noquinha, você sabe que pode sentar até no meu colo e contar toda a novela de sua vida e até o “vale a pena ver de novo”, né? Feliz Natal para você, Claudinho e Lara. I love yous.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

28.JOGA FORA NO LIXO!


Quando a gente está fazendo quimioterapia, ficamos próximas de algumas pessoas que fazem quimioterapia junto com a gente, mesmo dia, mesmo horário, etc. Por motivos óbvios: 2 horas sem fazer nada, solidariedade normal e uma certa cumplicidade. Em 04 sessões vc já sabe sobre os gostos, família, trabalho e amores.
Ah, os amores, que delícia.
Pois então, ontem me ligou uma “amiga” da quimioterapia e que virou amiga da vida, toda feliz e por um motivo de amor. Tinha conhecido um cara muito legal e eles estavam saindo e muito apaixonados. Ambos tem mais de 40 anos, sendo assim já “queimam” algumas etapas numa relação, nessa altura dá pra saber se vai ser bom ou não e se o cara não é um psicopata roubada.
Ela já fez a masectomia e vai colocar a prótese por agora, está bem animada, enfim, vai colocar os peitos novos e os que ela escolheu, olha que beleza!!!!!
Fiquei feliz por ela, uma relação numa hora dessas é muito bom, por todos os lados, e os principais são os clássicos: é bom estar apaixonado, blá, blá. Mas, para uma mulher que fez masectomia ou vai fazer, a coisa fica mais importante ainda, também por motivos óbvios. É realmente bom ter um companheiro (a) para acompanhar os altos e baixos e uma certa gangorra emocional natural na TPM, imagina com “drogas pesadas” e numa situação como a que a gente está vivendo. Um carinho antes e um sexo depois ou vice e versa faz muito bem.

Como já falei numa postagem anterior, eu nunca tive muita sorte no amor. Sabe o dedo podre? Pois é, eu tenho a mão toda! E de quebra, os pés!
Eu gostava, muito, muito mesmo, de uma pessoa com quem tinha me relacionado tempos atrás, um mês antes do diagnóstico. Apesar do pouco tempo que estivemos juntos e por conta das nossas afinidades, não tinha dúvidas de que teria fôlego para viver com ele por mais tempo ainda, e com os anos acabaríamos lendo os livros que deixamos de ler e conheceríamos cidades nascendo ou se transformando. Eu achei que tinha achado o amor da minha vida, o problema é que eu não tinha combinado com os russos. Mifu.
Pois então, depois do diagnóstico ele foi a única pessoa do meu círculo mais próximo que nunca me deu um telefonema. Oi, como vc vai, quer dar uma volta, quer ir ao cinema, vamos sair pra distrair, puxa como você é linda, rsrsrs e etc. E a atitude dele me fazia ficar triste e muitas vezes. Eu estava juntando as pontas e ele era uma ponta bem solta, era importante ter trocado impressões com ele naquele momento tão difícil que eu vivia. Afinal, era com quem eu havia me relacionado afetivamente há pouco e a minha relação com o meu "feminino", como é natural, estava um pouco abalado. Pois bem, cada dia que passava e ele “tô nem aí” eu ficava mais triste e, numa atitude de preservação, fui isolando a pessoa cada vez mais num canto do meu pensamento. E o tempo foi passando e nem mágoa, nem raiva, nem amor, nem decepção, nem... nada.

Uso este exemplo de uma relação afetiva, mas pode ser com tudo, tudinho mesmo!
Com a ajuda da minha querida terapeuta Leila, pude me concentrar no que realmente interessava para o meu organismo: minha cura, eu e minha cura, e de quebra, limpar a área.

Já que estava cortando a gordura, cigarro, carne e aquele programa roubada, aquelas pré-estreias chatas, filmes ruins e lançamentos de livros que nunca iria ler, enfim dei um tempo de tudo que me fazia mal: sensações desagraveis, por favor, mantenham –se a 200 metros de mim!
É bom cortar o máximo e se sentir muito bem com o mínimo.

Mas, queria muito ter aprendido tudo isso tem ter que passar pelo câncer. Queria ter aprendido a me blindar com o que me fizesse mal, dar um gás nas coisas que realmente me faziam bem sem ter que passar experiências que na verdade não me acrescentavam em nada, só me atrapalhavam..
O câncer, por incrível que pareça (toc, toc, to), me fez bem. Ah, sobre o cara? O encontrei mais de uma vez por acaso e num dia desses do acaso,eu, muito gentil, perguntei, como vai? E ele me contou, sem respirar, as mazelas, chateado por que alguém o contrariou, e a vida estava um porre e bla, bla, bla. Usou meu ouvido de pinico, sabe como? Tive a impressão de que eu poderia ser até um poste, bastava o poste falar.
Me despedi, estava com pressa, ia viajar , sai andando e de repente caiu a ficha: Putz, ele nem me perguntou como eu estava? Mas que coisa chata, que pessoa egoísta, vaidoso, egocêntrico, e, além de tudo... deixa pra lá. Nossa mãe, como posso ter perdido dias de sol maravilhosos e alegres com meus amigos, minha filha ou até comigo mesma porque estava curtindo uma fossa daquelas dignas de Dolores Duram?
E continuei a andar. Mas no caminho não agüentei e falei: ei, estou muito bem, obrigada por perguntar! E saí rindo, feliz comigo e pensando: nossa, que pena, ele está mais doente que eu. Só que eu sei o diagnóstico.

Obs: nos encontramos novamente depois de ter escrito este post e até demos risadas. Foi bom...mas bommmmm mesmo, assim bom, bom, tenho dúvidas.
No momento estou mais pros ótimos!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

27.ADOTE UMA POSSÍVEL PORTADORA DO CÂNCER DE MAMA


No dia da entrevista no Sem Censura que contava com a presença do presidente da sociedade carioca de mastologista que esqueci o nome agora (já falei que sou uma sequelada de memória) ele afirmou, ali pra todo o Brasil, quiçá para o mundo, que toda mulher acima de 40 anos tem direito ao exame de mamografia de Graça! Isso mesmo que você leu!!! Todas, todinhas.
Somos 60 mil mulheres por ano (volte duas casas e leia de novo para não esquecer!!!) Confirmando, 60.00 mil. Agora, repita comigo, 60 mil. Camon evribari: 60 mil. Decorou? Pois então, é gente pra caramba, um maracanã lotado, final de campeonato brasileiro. Por favor, contribuam com imagens que remetam a uma multidão de 60 mil, assim não esquecemos deste número assustador e nos movimentaremos mais rápido.
Vou começar então a juntar as pontas. Tem uma coisa que tenho acompanhando com uma certa regularidade pela TV e que boa parte da população brasileira idem é a monstra da Flora começando a se ferrar na novela “A Favorita”. Quero mais é que ela se exploda!!! Mas vou contar um segredo cá pra nós: me tornei uma pessoa tão ligada a outras mulheres que tiveram câncer de mama, que ainda procuro alguma bondade naquela megera vivida pela Patrícia Pilar! Maluca eu, mas é verdade. Bem que o Fernando Sabino falou (foi ele mesmo?) mineiro só é solidário no câncer.
Outra coisa que acompanho grudada na TV é a tragédia que se abateu sobre Santa Catarina, com a intermitente chuva que caiu por lá neste fim de outubro. Acompanho, feito nas Olimpíadas, as soluções que estão sendo dadas, o que podemos fazer, onde posso mandar roupas, agasalhos, telefono para os conhecidos que moram por lá, e por aí vai. Impossível não se emocionar com o que aconteceu com nossos irmãos sulistas. E a solidariedade brasileira mais uma vêz ganha a medalha de ouro em solidariedade.
Então pensei, vou juntar as pontas . Pôxa, será que precisamos vivenciar uma tragédia como a de Santa Catarina para sermos solidários? E sabemos que já, já, a solidariedade começa a dar lugar às festas natalinas, ao presente de amigo oculto, o que fazer com as crianças nas férias, enfim, vira uma solidariedade pontual para a maioria doas pessoas. Continuando. Será que não podemos ser solidários com uma mulher , uma pelo menos nos 365 dias que temos no ano? Vamos no máximo gastar algumas horas dentro desses 365 dias. Não me tornei madre Tereza de Calcutá com o câncer, mas peraí, estou sendo prática. Já sabemos que muitas mulheres são esteio de família, e nas classes menos favorecidas, mais ainda! Elas que cuidam dos filhos, dão jornadas triplas de trabalho, e sem elas, a família vai pro beleléu. Desestruturam, e fica mais difícil ainda dar a volta por cima. Nós vemos este assunto ser abordado em muitos veículos de comunicação.Essas mulheres não têm tempo nem para se olhar no espelho, imagina ir num posto médico fazer a mamografia. E tem a ignorância, o medo, e blá, blá, blá.
Pois bem, adote uma mulher e a leve pela mão ao exame. Pode ser a mulher do porteiro, do zelador, a mulher que te atende na vendinha, a sua vizinha, a lavadeira da sua família, a caixa do supermercado, a moça da limpeza do seu escritório, enfim, não precisa nem sair do seu bairro se não quiser ter trabalho. Mas mire numa e adote. Fale com ela da importância do exame, e se ela não der importância, apele. Fale nos filhos, no futuro, nos netos que ela vai ver nascer, e etc. Mas siga um roteiro e ajude de verdade: veja qual é a mamografia mais próxima, seja realista mesmo e dê o dinheiro da passagem, cobre se ela já fez, morda e assopre, seja doce e firme. Com certeza, já estaremos fazendo alguma coisa pra diminuir esta triste estatística. Você pode salvar não só a vida dela, mas de uma família inteira.
Não espere sair na tv. Adote uma mulher.