domingo, 30 de novembro de 2008

26. ENCONTRO DE FAMÍLIA OU PROVA DE MARATONA?


Como já falei por aqui, minha família é bem grande. Meus avós paternos contribuíram e muito para o aumento da população brasileira nos últimos anos. Tiveram 09 filhos, cada filho teve a média de 3 filhos e cada filho do filho tem a média de 02. Somando tudo isso aos namorados, maridos e ex maridos, mulheres, ex mulheres e agregados próximos, a família torna-se praticamente um número considerável para a contagem do IBGE. Para se ter uma idéia, quando temos que reunir todos não dá pra ser na casa de alguém, tem que ser ou na sede social do condomínio ou no salão de festas do prédio.
Bom, nos reunimos para organizar o pré-natal, ou seja, para tentar organizar o Natal, que resolvemos este ano passar todos juntos, e não em “departamentos” como tinha sido nos últimos 02 anos. É claro que a reunião foi na sede social do condomínio onde 02 tias moram em Itaipu, Niterói, para caber todo mundo e deixar as crianças mais soltas e assim não nos enlouquecerem. Teria churrasco, cada um levada um complemento e pronto, está feito o programa de domingo.
Eu sou a única da família que mora no Rio capital diga-se Ipanema, Copacabana, arpoador, mangueira, Estácio, tijuca e arredores...Todos da minha família moram em Niterói, diga-se praia de Itaipu e Itacoatiara, Museu Niemayer, Lars Grael, Vale das Moças, Icaraí, e alguns moram parcialmente na ponte Rio X Niterói, principalmente os que moram por lá e trabalham no Rio.
É bom frisar que da minha casa para a sede social do condomínio onde seria a “reunião” de família tem uns sessenta quilômetros.
Como falei, estou tomando aquelas injeções “graneloquines”, que me deixam descadeirada, com um certo mal estar e um cansaço generalizado, parece que passei a noite inteira na farra.
Pois bem, me preparo pra sair de casa. Antes vou tomar a injeção, tomo os meus remédios habituais e a homeopatia que o tio Orlando me passou, arrumo uma bolsa que varia de inverno e verão para não ser pega de surpresa e sigo rumo a Niterói com a Elisa, ouvindo no carro uma rádio de seu gosto, e que eu acho até legal, novidades!
Pois então, gostaria de saber quem é o engenheiro de trânsito de Niterói. PQP, um percurso de 45 e cindo minutos vira 1 hora de 45 minutos. Estava marcado para meio dia e só chego às 14:30. Completamente estressada e mais descadeirada ainda, com metade da minha disposição física diária pós granoloquine gasta no percurso!
Chegando lá, beleza Clélia, saudades, como a Elisa cresceu, e pá e coisa e tal. Delícia.
Começamos a “reunião”para resolver o Natal, que na verdade era uma Assembléia, com a condução dos 02 mais velhos da família, papai e tio Basinho. Uma Assembléia mesmo, com inscrição pra falar e tudo, secretária de mesa, Natália e o tio Basinho presidindo. Vale a pena dizer que foi depois do churrasco e de umas 5 caixas de cerveja, ou seja, todos estavam mais ou menos fora de controle, e me deram um sininho que tentava fazer com que todos não falassem ao mesmo tempo. O sininho, a careca e sem cílios, me dava uma moral danada!
Resolvido o Natal, bufet, local, e tal, as pessoas foram se agrupando naturalmente, e um grupo foi jogar buraco, quase uma tradição na família. Eu inclusive. Q-u-e l-o-u-c-u-ra! Na mesa duas duplas e em torno umas 9 pessoas, que faziam de tudo menos prestar atenção no jogo. Era, você acha que a Lulu deve ir na festa, afinal ela só tem 11 anos? Natália falando da entrevista que fez para o Big Brother, outra falando do show da Banda dos meus primos que ia ser à 1:00 da manhã, e 02 até discutindo a relação! Um bando de doidos!
Fiquei mais estressada ainda! E ainda tinha que voltar pra casa!
O fato é que hoje não mal consegui sair da cama, tão exausta que fiquei.Quando consegui sair ,fui até a livraria da Mariana tomar um café e voltei correndo, achei que ia deixar minha bunda no caminho de tão descadeirada que estava. Descobri que minha família me deixa mais exausta que a quimioterapia, rsrsrsrsrs.
Mas, apesar da loucura (rsrsrsr), me deixa muito, muito feliz mesmo. Foi um carinho só, abraços, chamego, força, e principalmente, em nenhum momento me senti doente. Aliás, tinha gente mais ferrada que eu: um com diabete, outro com hipertensão, outro com torção nas costas e um até com hemorróida! O meu câncer era o que incomodava menos.
Fim de dia, retorno e chuvinha, enfim minha cama. Mas bem feliz, e chorosa com os efeitos das duas garrafas de vinho que tomei com minha prima Lúcia.
E forte para tomar mais 800 granoloquines, afinal com o astral dessa família as coisas podem até me abalar, mas fica difícil derrubar!
Obs1: ainda fatou um número considerável: Babá (que trás 2), deve estar em algum lugar do mundo falando de e defendendo nossos índios, Zeze na América do Sul estudando os nosso índios e o dos outros e comemorando seu aniversário fazendo o que gosta, Cleísa e troupe em Manuaus, onde também está tia Marelisa. Graças a Desus. Mas como são democráticos, acatam a maioria.

Só mais uma observação: meu pai, que foi eleito o presidente da comissão do Natal,até pq é o único que tem moral além de ser o mais velho da família, pede a palavra: vem cá, quando é o Natal mesmo?
Fecha o pano.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

25. O que Fazer? Sem Censura


Ontem, dia 27/11, fui no programa "Sem censura", da simpática Leda Nagle. Trabalho com televisão, cinema e afins há mais ou menos 20 anos, já vi e fiz muita coisa mas realmente tenho um apego especial pelo "Sem Censura" e acho a Leda Nagle, com sua voz rouca um charme e simpatia. Desde criança (será?), ok, adolescente, assisto este programa e acho um barato a babel que ela faz entre os entrevistados. Tem de artista de circo a empresário, passando pela dona de casa e pela celebridade, e na maioria das vezes dá certo, a diversidade é a alma do programa, e a condução dela é incrível! Leda Nagle para Secretária de Estado! É muito hábil na capacidade de juntar todos que mal se conheciam quando entraram naquele estúdio. Saímos de lá quase amigos, até me apeguei. Além disso, tinha a presença de um médico da Sociedade Carioca de Mastologia, e fazíamos uma dupla muito próxima de outras que já conhecemos, ele era a tese e eu a prova.
Bom, fui lá falar do blog e foi bacana, me dei conta de que é isso que tenho que fazer entre a quimio e a cirurgia. Escrever bastante, porque agora virou vício dos bons, e fazer uma seleção do que vai ocupar meu tempo daqui pra frente. Percebi que o câncer dá muito mais livre arbítrio!
Deixar de subterfúgios, eles realmente enfraquecem a vontade e acabamos nos rendendo a posições nem sempre confortáveis para a nossa vida e nem sempre a que queremos. É exatamente o "engolir sapo". Este exercício te dá a chance de falar o que quiser com a calma e tranquilidade de um monge budista, sem streess.
Não precisa ter opinião sobre tudo, mas se colocar sobre tudo que incomoda é muito bom.
E não se preocupar se está sendo egoísta ou não. É bom proferir sempre as palavras mágicas: primeiro eu, segundo eu e terceiro eu. Ah, e depois eu.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

24. E agora, o que fazer entre a quimioterapia e a mastectomia?


Bom, estou aqui um pouco tristonha pós quimioterapia. Em cinema, quando fazemos um filme de longa metragem, geralmente passamos em torno de 8 semanas, no mínimo, convivendo com as mesmas pessoas todos os dias, 10 horas por dia. Tomamos café juntos, almoçamos juntos e acabamos quase sempre a nossa jornada exaustos e felizes. Muitas vezes convivemos mais do que com a família, que fica em casa nos esperando, ou muitas vezes, quando trabalhamos fora da cidade em que vivemos, aguardando um telefonema. A gente se afeiçoa, faz amizades, acaba outras, enfim acontece de tudo.
Quando a filmagem termina , dá aquele vazio... Chamamos em cinema Fim de Film Blues...
Pois então, acho que acabei de viver a Fim da Quimioterapia Blues. Puxa, que falta do que fazer que deu em mim hoje. Fiquei até sem vontade de escrever...Mas passa.
Até a masectomia, vai demorar no mínimo um mês, e no meio disso fim de ano, festas no escritório, no prédio, caixinha pra porteiros, entregadores de jornal , presentes pra secretária, mãe, filha, sobrinhos, todo mundo meio excitado, enfim, povo na rua! E Natal e Ano Novo, que sempre dá aquela sensação de.... fim de ano!
E eu aqui quietinha, sem querer nada disso. Ainda estou tomando aquelas injeções granoloquines (?) durante 05 dias, para aumentar a imunidade, e eu as chamo de grandelouquinhas, para baixar a bola dos efeitos colaterias, que pra mim são maiores que a quimio. Fico descadeirada, sooooooono, um pouco de dor nas pernas, um saco! Mas estou até gostando, acredita?! É que assim ainda vejo as meninas e os rapazes da Oncoclínica: Juliana, Mariana, e companhia, me afeiçoei a eles e sei que eles fazem parte do meu exército que luta contra o câncer. Até segunda estarei indo lá tomar a injeção, cumprindo a mesma rotina mas indo diminuindo o rítmo, aí vai passando o Fim da quimioterapia Blues.
Mas sei que, neste momento, não entrei ainda no clima de fim de ano que começa a aparecer aqui e alí, algumas árvores, luzes piscando, aquela árvore enorme aqui da Lagoa.... mas como sou "facinha", já já estarei aproveitando mais e mais o horário de verão aqui do Rio e saindo de bicicleta para dar um mergulho na praia do Arpoador (aí em cima à direita) e colocar aquele biquíni enorme mas decotado em consideração aos meios seios que se vão. E me despedir deles em grande estilo, já que eles me fizeram tão feliz por todos esses longos anos :) .


domingo, 23 de novembro de 2008

23. Última Quimioterapia, Fim de uma Etapa, Feliz Aniversário! Uhhhuuu!


Amanhã, dia 24 de novembro faço a última sessão de quimioterapia, antes da cirurgia, etc, etc, e por coincidência, aniversário do meu oncologista, o Eduardo. Pena que não podemos comemorar depois, eu minha última aplicação (até segunda ordem) e ele o aniversário. Nem pega bem sair pra tomar um chop com seu oncologista no final da quiomio,né? mas o Eduardo é gente boa, e eu desejo sinceramente que ele fique sempre ao lado da ciência e ajude a curar muita gente e também ajudar a acabar o estigma horroroso do câncer. Quando fui na segunda consulta, para a segunda quimio, já com um pouquinho mais de intimidade, perguntei: posso fazer isso, aquilo, aquilo outro? Ele, no alto de sua sabedoria; e ele é alto pra danar, pode, pode fazer tudo que quiser!. Eu AMO este médico, por que eu ouvi tudinho da maneira que eu queria ouvir, "não falei mãe, não disse, pode repetir novamente, por favor? Posso gravar pra mostrar para as amigas e pra minha filha Elisa? Que maravilha viver :)!!!! Foi muito bom pra mim poder levar uma vida normal naquele momento, e também mostrar para os próximos que eu estava bem viva, e bota viva nisso!Vale tudo, só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher, como dizia Tim Maia, nada contra. Mas nada de excessos!!! Se beber,não dirija.

E eu confio muito no Eduardo, o que é fundamental para qualquer paciente em tratamento. Escolher oncologista é mais difícil que o homem da sua vida, afinal de contas de amor a gente sabe que não morre (muito raro), o estrago é grande mas você supera. Agora câncer mau tratado, nossa mãe, é uma roubada. E depois de confiar, faça tudo que ele manda, vire uma gueixa. Seremos eternamente gratos por este momento de entrega.
O Uhhuuuu do título é da minha filha Elisa, que me ajuda neste momento a escrever no blog.
Mas faço um coro: UUUUUUhhHHHHHHuuuuuu!, vou ficar com as segundas livres!!! E quem sabe, consigo ir com minha amiga Paulinha praquele cineminha mais barato...
Feliz Aniversário Eduardo Bandeira de Mello, meu oncologista gato e gente boa, e muitos anos de vida pra nós dois. Tim, Tim.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

22. Use Cateter, preserve seu braço.


Então, algumas pessoas, com menos de 20 anos, me perguntaram o que era cateter. Pois bem, segue abaixo a descrição direta do Wikipedia (com uma definição mais editada para o nosso caso) e bem básica. Atenção, a figura é opcional, ela pode apavorar maridos, namorados e afins, esses homens são meio frouxos, vide a escolha divina de nós termos os filhos e não eles. Tenho um conhecido que fez operação de apêndice aos 12 anos e até os 20 jurava de pé junto que ainda doía.

Wikipedia:
Na medicina, o cateter é um tubo que pode ser inserido em um ducto ou vaso (cateter vascular), em uma cavidade corpórea natural , possibilitando a injeção de fluidos.
Na maioria dos usos o cateter é um tubo fino, macio e flexível. Entretanto, o cateter poderá ter o diâmetro largo e ser de consistência dura.
O processo de inserção de um cateter é denominado de cateterização.


Entenderam? A segunta pergunta: Pra que serve? Vou ser direta: serve para não deixar seus braços horrorosos quando acabar a quimio (ela queima), e deixá-los livres durante sua sessão de uma hora e meia,. Assim você pode segurar o livro e mudar as páginas ao mesmo tempo, usar o lap-top, abraçar seu filho, cochilar sem ter medo da agulha te machucar, ou fazer o que sua imaginação permitir e a cortina que te dá uma certa privacidade também.
Portanto, se puder, use cateter. Essa foi minha escolha e de meu mastologista (que também é cirugião plástico e entende do assunto). Lembre-se que depois do seu câncer, dependendo da vida que você leva, ainda vai durar muitos anos e é muito melhor ter seus braços em condições favoráveis e lindinho, combinando com seios que você vai usar depois de masectomia.
A colocação do cateter é uma intervenção que não dói, não solta as tiras e não tem cheiro.
Pense no assunto depois que passar o susto do dignóstico.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

21.Dê uma carteirada quando for necessário. Continuando o que é bom e ruim.





Continuando:

Barulho: Acho que eu tenho um trauma enorme com barulho, daqueles que nem a terapia é capaz de vencer. Tudo começou quando era adolescente, quando ia para as festinhas na sexta (chamava matinê) e de manhã minha mãe, uma fanática por limpeza, me acordava com a enceradeira ensandecida no meu quarto. Era assustador! Monstros gigantes roubavam meu sono, e acordava num mau humor danado. Ainda bem que é um eletrodoméstico em extinção. Quem não lembra o que é uma enceradeira, rsrsrsrsrs, no canto à direita. Nota: não é a minha mãe que pilota esta aí.
Ácaros: Manaus é uma cidade que tem a temperatura úmida, portanto não combina com carpete de maneira nenhuma! E os hotéis, que tiveram decoradores vindo sei lá de onde, adoram um carpete, que encobrem inclusive a nossa nobre madeira amzônica, se esvaindo com piratas rio abaixo. Serginho, meu colega de Festival, contou que quando ele abriu a porta do quarto os ácaros deram-lhe boas vindas dançando hula-hula. Eu nem cheguei a ir no meu, e perguntei se tinha carpete. Tinha. Então, colega de câncer, numa hora dessas use todas as prerrogativas que a doença te dá! E dê uma carteirada, sem dó nem piedade e muito menos com culpa. Pedi na mesma hora para mudar de quarto. Estava cansada da viagem, e aí tirei a maquiagem no banheiro mais próximo (batom e lápis para os olhose o blush rosadinho), coloquei uma camisetinha para o meu cateter chegar na comissão de frente e assim ninguém duvidar que eu estava com alguma coisa errada, sei lá o quê. Não sei se eles ficaram com medo que eu morresse ali mesmo, ou alguma coisa parecida, que me mudaram rapidinho para um quarto “com vista para o mar”.
Aliás, nessa viagem usei 02 vezes desta prerrogativa, no hotel e no avião de ida, onde o piloto com certeza estava na andropausa. A temperatura era de 8 graus, todos batiam queixo sem parar, o avião estava bem vazio, então nem o calor humano era possível. Reclamavam e nada! Não tive dúvidas: dei uma carteirada na hora. Com passos cambaleantes e embrulhada numa echarpe, fui em cima da comissária japonesa. "Querida, se eu ficar gripada, posso ter uma pneumonia rápida, estou com a imunidade baixa, e blau, blau", bem dramática. Ah, e processo a companhia. Na hora ficou um “Rio, 40 graus”.
Nós, que estamos com câncer não temos que ter medo de fazer valer nossos direitos, não estamos dando um ataque de tuxina ou um ataque histérico. Estamos sim nos preservando! E qualquer animal faz isso, inclusive os da espécie humana, ora bolas.

Volto às coisas boas. Manaus é o meu canto, e enquanto tiver smiles, o Festival me convidar e se a minha prima Lúcia achar aquelas passagens de R$ 50 reais, é pra lá que eu vou sempre que puder.
O meu exército de células boas agradecem penhoradamente.
Cheguei no Rio. Desta vez, Rio Bailônia, ouooooouoouou...


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

20. Ainda Manaus e outras Cositas Mais


Rever Manaus despertou em mim muitas sensações e sabores adormecidos, que voltaram a pelo vapor. Ou motor!
Mas é claro que, no pacote, vem as coisas ruins também , afinal, nossas sensações tem vida própria, e não são selecionadas como neste avião que acabei de pegar e que a moça do embarque pede com sua voz gentil: passageiros do acento de 1 a 18, por favor para a esquerda e passageiros do acento 19 a 31 para a direita. As sensações vem todas juntas, feito uma pororoca. Vou dar alguns exemplos não tão agradáveis que revivi por lá.

Calor. Minha Nossa Senhora Aparecida do Beco da Indústria , agora entendo porque meus pais optaram em sair de Manaus e aumentaram a população da cidade com o maior número de aposentados do Brasil, a Miami tupininquim, nossa simpática Nitéroi. Em Manaus é de rachar a moleira, minha careca ficou suada mesmo dentro da piscina, acredite. Por isso todo mundo vive no ar condicionado, e a pele da gente vai engilhando e vamos no tornando aos poucos um maracujá. A gente então que está fazendo quimioterapia, nossa mãe, em 04 dias vira um cuscuz daqueles amarelhinhos que sugam até o Rio Amazonas. Os meus hidratantes "especiais" ficaram pela metade em 05 dias. Foi difícil em alguns momentos, quase chorei quando minha mão ficou com uma aparência roupa sem ver um ferro de passar . Então eu recomendo: na hora de dar sua escapadinha para arejar a cabeça, e esquecer um pouco do seu câncer, fique atenta para todas as condições climáticas, temperamentais, de transporte e etc que a cidade te oferece.
E pense no sol. Para nós , os sem cílios, é uma claridade ao cubo, potencializada. Se vacilar vc tem que colocar insulfilme 500 no seu óculos escuro. Para quem faz cinema ou similar, é como se Deus tivesse colocado um rebatedor gigante sobre a cidade. Meu compadre Paulinho Violeta teria que se virar nos 30 para resolver.

E o filtro solar, durma com ele.

Barulho. Não sei por que cargas d’água o manauara, de um modo geral, ouve todo tipo de som às alturas. Se é pra chamar o filho que fugiu para a casa da vizinha é - Joãaaooooo, vem pra casa menino!", num berro que chega a ser ouvido no outro lado do rio, em Manacapuru. Ou para colocar aquela musiquinha ambiente (!), que deveria ser de fundo, é tudo muiiiiiito alto. Quando a gente vê já está gritando uns com os outros, e gesticulando muito para ser compreedido, parecemos mais descendentes de italianos do que dos indígenas, que andam sorrateiros e em comunhão com a Floresta. Aliás, no hotel da selva (ariaú), tudo que fizemos foi não ouvir o barulho sinfônico da mata, e sim um show interminável do Boi Garantido e do Boi Caprichoso, num mantra repetitivo que quase nos levou à loucura. E olha que eu gosto deles e sou Garantido.
Como aboli a peruca, o meu lenço tapa parcialmente os meus ouvidos, e a coisa fica realmente mais fácil.

Vou ter que continuar depois. Preciso desligar o computador, estamos chegando em Brasília e não posso me sentir culpada caso exploda o avião. Se bem que não seria má idéia, se depois de colocarmos os pára quedas, o dito cujo caísse em cima do Congresso, quem sabe viveríamos melhor sem o Ali Babá e os 40 deputados.
Vou aproveitar e comer pitomba que trouxe na bolsa e prolongar um pouquinho mais do sabor de Manaus no meu paladar.

sábado, 15 de novembro de 2008

Frase do Dia

"A cura está ao câncer de todos"
Zéca Cyrino, meu primo

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

19. Tchau Manaus, até ano que vem!

Tucuxi, tacacá, pacú, jambu, pirarucu, tambaqui, jaraqui, uarini, ananã, graviola, cupuaçu, tucupi, tucumã, pupunha, ingá, ...poderia ficar o dia inteiro falando os nomes que ouvi e que estavam dando uma dormida na minha memória, ou que eu pude saborear na minha estada em Manaus, minha terrinha do coração, durante o Amazonas Film Festival.

Mas agora só posso dizer: Vumbura já maninha, tenho que ir embora.

Zeca, Estela, Publio, Vania, Barbosa (meu colega de tratamento), Lucia, Cacau, Helena, Ceita, Mona, Raíssa, Larissa, e mais uma penca de parentes, o meu "hospício' familiar particular, "foi muito bom estar com vocês", como diz aquela apresentadora de tv que mais parece uma paquita vencida.
Agora imagina todo os Bessa Cyrino além dos Bessa Freire (meus tios avós começavam a contar os filhos à partir do número 4), católicos que são, rezando por mim: quero é ver se esse carcinoma já não se borrou de medo e foi-se embora às carreiras...

Vou levar tudo que vivi até o caroço, a força que esta terra me dá, acumular energia para o que vou viver pela frente, skindô, skindô, skindô.

Fiquei tão relaxada por aqui que cheguei a falar num final de dia : "nossa, estou espirrando muito, acho que vou ficar doente"... Ao que o Serginho respondeu, na lata: "ué, como assim? Tá maluca? E caímos na gargalhada... esqueci do babaca do câncer totalmente.

E, para provar sou da gema, olha só a minha desenvoltura e segurança na rede, que beleza. Só faltava achar um bôto pra chamar de meu...aí, confesso, poderia até me perder por aqui...

Eita, esqueci do meu encontro "romântico" com o meu oncologista no dia 24, para a minha última quiomioteria antes da cirurgia.
Meu date com o bôto vai ter que ficar para o ano que vem e tenho certeza que vou encantá-lo mesmo "despeitada".
Ele pode vir quente que estarei fervendo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

18.Cabelo,cabeleira,descabeludo, descabelada


que falei sobre cair no Rio Negro careca (post 17) e que agora aboli a peruca, me deu vontade de contar o ritual da careca.
Meu cabelo estava caindo aos tufos e fui cortando devagarinho, mas mesmo assim era muito desagradável a sensação de ir se desmanchando
Como falei numa postagem anterior, minhas amigas mais próximas tem filhas meninas, todas mais ou menos da idade da minha Elisa, de 9 a 12. Alice, Eurídice, Maria, e Tereza, são as mais velhas, mas tem ainda a Lara e a Antonia, de 7 e de quebra a Rosa, de 4. Eita mulherada! E todas ammmmmmammmmm cabelos, claro.

Aí minha amiga/marida RRRRRRRRRRRRRRôse fez o primeiro trabalho. Pegou a máquina do maridão Tuco, pai de Rosa e Daniel, e deu um primeiro than. Beleza, valeu, até mais.

Depois resolvi fazer disso um cerimonial, chamei Paulinha, minha "irmã" e mãe da Alice que mora perto de mim no Rio e juntei as meninas. Achei que elas deviam ver a transformação da tia Clélia ao vivo e a cores, além de terem a oportunidade de cortar um cabelo de verdade, não só das pobres das bonecas que jamais teriam a sorte de ter os cabelos de volta um dia, como eu teria.

Aí foi uma festa! Ana, mãe da Maria, providenciou o creme de barbear para ficar mais fácil de raspar a cabeça. Aqui abro um parêntese. Meninas solteiras, é fundamental ter espuma de barbear, assim meio por acaso, em casa. Nunca pensei o quanto os rapazes se sentem seguros com a possibilidade de poder fazer a barba pela manhã. Ana é realmente esperta.

Bom, aí abrimos um vinho, e começamos os trabalhos. Paulinha, com sua habilidade com as mãos meio duvidosa, mas em compensação uma das pessoas de minha inteira confiança, começou a raspar meus cabelos que restavam. E as crianças peruando, minha filha Elisa meio cabreira mas Alice, que é hilária, achando tudo uma farra.
A primeira fez tchan, a segunda fez tchun e tchan, tchan, tchan, estava como vim ao mundo, carequinha.
Depois de meia hora as meninas já estavam noutra onda e mudado de assunto, eu e minhas amigas ficamos de conversa na sala mais um tempinho e na hora cinderela todas se foram para suas casas.
Elisa foi dormir e entrei no banho.
Foi um banho bem demorado, chorado, era a primeira vez que me via totalmente sem pelo.
Demorei um tempo extra deixando a água cair na careca. Era uma sensação que me aliviava.
Como a quimioterapia transforma sua pele num cuscuz, acabei o banho e comecei uma demorada sessão de hidratantes, e pela primeira vez coloquei na careca.
No final de tudo resolvi: tudo que economizaria com shampoos neste período doaria para uma instituição de apoio às crinças com câncer. Depois desse dia começei a "comprar" shampoos bem caros.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

17.Deu na Folha de São Paulo e estou no Amazonas.




O blog saiu na Folha de São Paulo e eu estou aqui no Amazonas, para ser mais exata no Hotel Ariaú, um hotel flutuante no Rio Negro. Não consegui ver a metéria ainda, papai me mandou por email mas no papel, não.
Fui criada aqui em Manaus, e qualquer convite para vir até aqui fico bem facinha e venho correndo, a passagem é cara pra danar e eu vim fazer uma das coisas que mais gosto na vida: ver filmes (estou no Amazonas Film Festival) e comer pacú. E é claro, ver minha irmã, cunhado e sobrinhos, além da tia Paulinha, que me espera sempre com uma cerveja bem gelada e um pacu pronto. Um não, 3.
Quando decidi vir, minha mãe, claro, vai fazer o quê, e se pegar gripe, é calor e úmido e os mosquitos, e blá, bla, e depois, vai mesmo minha filha, beijo pra todos e eu fico com a Elisa. Oba. Então, eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou!
É muito bom voltar pra terrinha numa hora dessas. Comer peixe, nadar no Rio, o sabor, o sotaque, tudo remete a infância, quando todos nós somos invencíveis. E tudo que quero neste momento é me tornar invencível!!!
E foi uma decisão acertada. E recomendo.
Não sei se é porque em Manaus tudo é super, o mosquito é enorme,o Rio Amazonas é enorme, o Jacaré é enorme, o céu é enorme, mas estou enorme, renovada.
Quando vivemos uma situação que temos que nos superar, acho que devemos ir em qualquer lugar que nos remeta à infância, a cidade, o bairro, a rua, a música, qualquer lugar ou momento em que a gente encontre a invencibilidade que sentimos um dia, vire quase um super herói.
Cheguei aqui e ainda não deu pra fazer tudo que eu gostaria. Falta tomar o tacacá, comer tambaqui na brasa com farinha, tomar guaraná regente, e çomer cupuaçu até.... bom.
E dizem que graviola faz bem para quem tem câncer. Vou cair de bôca, e sem nenhum esforço feito as linhaças, couves, espinafres e etc que me obrigam a tomar no suco de manhã.
O legal deste Festival é que vim para cá com pessoas que fui conhecendo ao longo da minha vida no cinema, e fico num orgulho danado de mostrar a Manô de mil contrastes. Gustavo, Neville, Zita, Tetê, Di Moretti, Serginho, Caio, Torquato, Mateus, Chico e muitos mais.

Agora com licença, vou comer um tucumã.
Mãe, pode deixar, levo pra você.
Ah, em tempo: mergulhei no Rio Negro careca e foi maravilhoso! À partir de hoje dei adeus à peruca, me achei linda careca e com batom bem vermelho. No Amazonas, pra mim, tudo pode. Nada pode ser mais diferente do que a própria cidade e arredores.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

16.Meu aniversário... câncer dá prestígio, acredite

Claudio, Jê, Felipe e Lírio.
Tenho um grupo de amigos mais chegados, alguns conheço há mais de 20 anos, logo que cheguei ao Rio vindo de Manaus. Outros, mais atuais, ganharam espaço e agora mais chegados também, fazem parte do meu cotidiano de cinema, chopinho, passa aqui, estou perto e vou aí, mergulho na praia , café da manhã de fim de semana, passeios de bicicleta, enfim, pequenos prazeres cotidianos.
Tinha feito a primeira quimio e meu cabelo começava a cair, em tufos, o travesseiro era um Tony Ramos e além de passar o dia tirando cabelos da boca, uma situação pouco agradável. Ia cumprimentar alguém com dois beijinhos e o cabelo ficava no blush, ou também na boca. um nojo. Então resolvi ir cortanto os cabelos aos poucos, bem próximo da peruca que iria usar. Eu recomendo.
Resolvi festejar meu aniversário, dia 09 de julho, inclusive para deixar meus amigos mais tranquilos, afinal, quando você tem uma doença como câncer, na cabeça das pessoas já está com o pé na cova ou similar. E a coisa aumenta em proporções gigantescas, quem conta um conto aumenta um ponto! Já deixei de ser convidada para um jantar "porque estava hospitalizada e muito mal", coisas assim. Contava com a ajuda dos meus amigos para a contra ofensiva, vamos lá minha gente, preciso de axé e não de vudu! Estou bem, me tratando, com tudo em cima.
Aí foi ótimo, marcamos um regabofe light no clube que eu frequento, o maravilhoso Campestre,e o Kiko arrasou nas comidinhas típicas e na cerveja gelada, e acreditem foram TODOS os convidados, numa terça feira, se não me engano.
A Marcia, mãe da minha amiga/marida RRRRRRRôse, me deu uma roupinha nova e lindinha, bem alegre, assim como eu queria estar. E corri pro abraço. E quantos abraços!!!! Foi excelente comemorar esta data, de nascimento e celebrando a vida, muito afeto e companheirismo, muito axé!
Este aniversário me deu uma carga de força incrível, liguei minhas turbinas rumo à cura, não podia de deixar de conviver com aquelas pessoas tão legais, tão queridas, e importantes pra mim.
Não ficar na toca foi e é fundamental, tentar levar uma vida normal é a melhor coisa que podemos fazer por nós mesmas neste momento. Não forçar a barra pra nada, mas poder ser acolhida pelos que você ama nesta hora é muito, muito bom.
E vou contar uma coisa, cá entre nós.
Cancêr dá prestígio.
Como falei, foram T-O-D-O-S os convidados, e alguns ainda de sobra, uma beleza.
Aproveite :)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

15. Para aprender a fazer comentários, passo a passo

Gente, a pedidos por telefone e por e-mail, recorri aos meus universitários e pedi um passo a passo de como comentar. Pois aí vai. Quando finaliza a minha postagem, vem em baixo comentários. Ali você clica e aparece esta tela abaixo: Aí é só correr pro abraço.



segunda-feira, 3 de novembro de 2008

14. Quero minha caminha.... PARA PULAR!!!!

Então, antes de passar pelo Guerra e pela Silvinha, estava falando da minha primeira quimioterpia, ou aplicação, como queiram.

Saímos da clínica e instalou-se um silêncio sepucral entre eu e minha mãe. Ninguém ousava falar nada, ela não perguntar e eu não falar nada para não me sugestionar.

Fomos para casa, e chegamos lá minha mãe soltou toda o seu lado mãe que estava represado até aquele momento. Clélia quer isso, quer aquilo, vc está bem, ta enjoada, fome, está frio, quer que mamãe durma aqui, e etc, etc, e etc. Pára mãe, calma, a doente aqui sou eu! Relax! Está me deixando nervosa! Foi o que ela fez e meia hora depois já estava abalotada na minha proltrona com a minha gata marie, pedindo para colocar o computador no jogo de buraco, e me dá agua, tem coca zero, cadê o controle, o que vamos jantar? etc, etc, etc. Aí eu falei: Pára mãe, a doente aqui sou eu ! E caímos na gargalhada.

Eu estava ansiosa antes, mas agora estava em alfa, como se eu tivesse prendido a respiração pelas 2 horas que fiquei lá e estivesse respirando agora. E o que é melhor, não estava sentindo nadica de nada! Nem enjôo, nem náusea, nem dor de cabeça, fome ou falta dela, tudo normal. Normal até demais. Achei que ia sair vomitando na recepcionista, depois no manobrista do estacionamento, depois no porteiro do meu prédio e na Rai, coitada, que ia abrir a porta de casa, e de quebra na nossa gata marrie. Um horror.

Então, pense comigo agora: cada um é cada um! Ham, ham. Tem gente que sente tudo isso e outras não. Eu sou da turma do outras não, ainda bem. Mas o legal é você nao achar que você vai reagir que nem as histórias que você ouve. Porque só contam isso, dos efeitos colaterias da quimio, do que sentiu, só se ouve coisa ruim, e ninguém conta que não sentiu nada. Você já ouviu no jornal: terremoto mata 200 mil pessoas na China, mas não ouve: terremoto deixa de matar 1 millhão e oitocentos mil pessoas na China, não é mesmo?
Confesso, já senti ressaca muito pior do que a primeira quimio, cruzes, só de pensar fico arrepiada.
Tem muita coisa que conta pra que isso ocorra. O seu remédio pescrito, o seu organismo, seu oncologista, e sua cabeça. É uma análise combinatória. E fica mais fácil agora, que os remédios são mais modernos e os oncologistas sabem que não é preciso matar só o tumor, mas te deixar em condições para ajudar a se curar.
É claro, sou uma sortuda, tudo bem, mas tem um monte de gente sortuda por aí que ja ganhou no bingo um monza ou uma galinha assada, ganhou na loteria, ou achou o grande amor, e por aí vai. Eu nunca fui uma dessas, gastei minha sorte na hora certa.
Em casa, começam a ligar e chega minha amiga/marida/sócia RRRRRRRRRRRRRôse. A preocupação dela, além da minha saúde, claro, era a peruca . Hilária. Ela não sossegou enquanto não escolhemos uma e ela providenciou, depois de perguntar para um monte de cabelereiro qual era a melhor, o que eu achei maravilhoso. Depois conto sobre o cabelo, careca, peruca etc, vale uma postagem.
Eu não senti nada e muitas vezes pensei: caraca, será que isto está funcionando mesmo? Outras vezes fiquei até culpada... louca eu.

Tem a alimentação também, claro. E eu adoro uma rabada com agrião, um pato no tucupi, uma picanha mal passada, sou da turma da pesada, mas a aRai me acorda com sucos que eu nem ouso perguntar o que tem. Sei de uns: couve com espinafre, suco de laranja, linhaça, um pouco de beterrada, gengibre e um pouco de mel. Tudo junto.É de lascar. No mais, uma alimentacão saudável, nada muito pesado, o tradicional grelhado e muito verde, assim, como se você estivesse: doente!

E na hora de dormir, ao invés de querer minha caminha pra deitar e curtir a fossa da minha primeira quimio, queria memo a minha caminha pra pular, feito a Meryl Streep no Mama Mia.... de alegria.
E minha mãe dormiu aqui e dormimos todas bem tranquilas, eu, mamãe, minha filha Elisa, a Rai e nossa gata Marrie. Merecíamos.