domingo, 7 de dezembro de 2008

29. LIVRE-SE DO CÂNCER E DOS CHATOS e VÁ PRA CASA DA NOCA


Nesta época do ano, como diz um amigo meu, todo dia é sábado! Realmente. É festa de fim de ano no escritório, na casa de algum amigo próximo, é bazar, é apresentação da filha na escola de música, no coral, ou até na acrobracia aérea, como é o caso da maluca da minha filha Elisa e da Eurídice, para minha apreensão e da Gláucia com as meninas penduradas em tecidos a 4 metros de altura. Tem os aniversários que caem em dezembro, como o da Noca, que naturalmente viram maratonas que começam no café da manhã e acabam no final do Fantástico. Haja fôlego! Na nossa turma de amigos chamamos até de Semana Comemorativa.
Algumas pessoas revemos somente nesta época, e no meu caso mais ainda, pela própria natureza da situação que vivemos quando tratamos de um câncer. A nossa rotina normal é modificada. E aí que entra a “diversão”.
Geralmente, quando estamos fazendo quimioterapia e usamos a cortisona, engordamos ou inchamos, certo? Pois então, acrescente neste quadro uma careca, tire a sobrancelha e os cílios. Montou? Pimba! Neste momento este é o meu caso. Uma pessoa mais gordinha e parecendo um personagem daquelas séries mal feitas, em que aumentam a orelha do cidadão e etc, como “Guerra nas Estrelas”.
Mas eu tiro a maior onda, até exerço bastante a criatividade com esses meus atributos novos, e alguns não tãoooooo novos assim, como o peso, por exemplo, que varia feito uma previsão de tempo. Os conhecidos que te acompanham vêem s mudanças, mas a maioria não. Eu uso uns lenços lindos que a Marcia me deu, uns batons bem vermelhos e pinto as pálpebras de preto, puxando para um olho meio gatinho, sabe como? Aproveito para experimentar estilos que não teria coragem normalmente, me divirto quando vou me vestir para sair, meu guarda roupa vira uma Disney! Acho que alguns vou até incorporar algumas peças quando tudo voltar pro lugar. Penso, estou com câncer sim, mas peraí, sem um pouco de vaidade, nunca!
Então, dia desses fui num evento aqui no Rio, uma espécie de bazar organizado pela minha amiga Zilda, uma idéia bem legal. Estilo moderninho, com livros, cd’s, roupas e bijuterias transadas, objetos estranhos e divertidos para o lar, e por aí vai. Ali, definitivamente, eu não era nem um pouco diferente.
Tinha um monte de conhecidos, alguns muito, outros menos e os que nunca vi. E nesta época do ano também vem o resumo editado, as pessoas chegam perto e comentam sobre o que fizeram, o que deu certo, que casaram, descasaram, escolhem a fofoca do ano, enfim, um encontro social nesta época normalmente se assemelha a uma retrospectiva superficial.
E eu, como estou meio sem fôlego, fico circulando menos. Normalmente sento numa cadeira confortável e fico observando o movimento, e como estou quieta, sempre vem alguém e senta ao lado.
E aí pintam os amigos, gostoso, mas na mesma proporção os que não se tocam e não são tão amigos, e alguns que não te conhecem. Esses então, como reclamam, valamedeus. É o trabalho que está um saco, é a filha que está impossível, é o marido que não comparece, é a empregada que roubou uma grana, é o cabelo que cortou errado, enfim, a futilidade comum de quem quer puxar papo e nunca te viu. No intervalo de comercial desta novela “incrível”da sua vida, como num lampejo de educação, lá pelas tantas, pergunta, e você, como está? Esta hora pra mim é como se fosse o final de capítulo da mesma novela, sabe como? Aqui fica o melhor! E me divirto com um sadismo de Odete Roitman misturado com o da Flora. Abro um sorriso bem grandioso, olho bem nos olhos e digo; Menina, que loucura, e eu que estou com câncer!
Silêncio. Riso amarelo. Olhar pertubado. Mão fora do lugar. Mas uma coisa que eu faço é segurar o meu olhar firme nos olhos da outra pessoa, senão não tem graça. Um minuto interminável e “puxa, preciso dar um telefonema, desculpe, um minutinho” e sai na carreira, sem antes dizer: ah, mas você vai ficar bem querida, incorporando um nostradamus básico. Depois disso, fica evitando cruzar o olhar com o seu, desconcertada. E aí é que eu olho mesmo! E, garanto, se fosse pressão alta, diabete, pedra no rim, síndrome do pânico, ou similar, com certeza a pessoa já engataria uma outra mazela, e não pararia de falar nunca mais! E tem mais, vou ficar boa sim, meu oncologista já garantiu, digo pra figura que já deu no pé e sequer ouviu.
Eta palavra mágica, câncer. Já que ele me veio me dar um susto, vou usá-lo até o fim! Exercito me livrando dos chatos e principalmente dos que alugam meu ouvido e ficam rodopiando em torno de si sem parar!
Obs: Noca seu aniversário foi muito agradável e inesquecível pra mim. Foi a primeira vez que fiquei careca na social com desenvoltura, uma delícia.
Sorry Marlene, não consigo chamar a Noca de Adriana, mas te juro que aproveitei toda a mordomia de seu lar, além de sua companhia agradável e do Almir. Desejo a você, Almir, Bruno, Lu e Bernando um 2009 repleto de alegria e com bons ventos.
Voltando, Noquinha, você sabe que pode sentar até no meu colo e contar toda a novela de sua vida e até o “vale a pena ver de novo”, né? Feliz Natal para você, Claudinho e Lara. I love yous.

Um comentário:

Solange disse...

Oi Clélia,

Adoro ler suas postagens, é muito bom falar o que está intalado.
Eu tinha um amigo e fui contar q estava com câncer, e o pobre coitado me perguntou se eu sabia o que aconteceria se eu fizesse quimio (cabelo, naúseas, etc) como se desse para escolher.
Mas acho que ele foi pobre de espírito, e hj eu o rebaixei para conhecido e as vezes quando ele liga me pergunta duas vezes como estou e digo que estou ótima, acho q gostaria de ouvir que estou péssima. Mas isso nunca aconteceu.

Bjs.