quinta-feira, 23 de outubro de 2008

9.Vamos ao Oncologista de uma vez!

Conversando com minha amiga Zilda, espirituosa e com tiradas dignas de um compêndio, ela me disse: amiga, você não tem obrigação de ser tão engraçada no blog, e tal e coisa. A Zilda foi e é uma pessoa muito próxima que eu pude me relacionar quando soube o dignóstico e me surpreendeu até, me ligava todo dia, me tirava de casa, etc. Isto merece uma postagem solo, os amigos que chegam mais perto e os que se afastam. E a Zilda tem direito e propriedade para falar isso, afinal ela não desgrudou do meu pé. Ainda bem.
E aí me dei conta de que, a minha primeira visita ao oncologista foi realmente o dia em que fiquei mais triste neste processo que estou vivendo. Saí de lá um trapo.
Tirando o fato do Eduardo (este é o nome dele) ser uma pessoa bastante agradável e um gato, tudo que vem da boca dele é chumbo grosso. Porque, é neste momento, com o oncologista, que você tem a dimensão do seu tratamento, quanto tempo vai durar, o que vai acontecer com o seu organismo, quais as drogas que vão habitar o seu corpo durante um bom tempo e que infelizmente não dão onda nenhuma, e por aí vai.
Chegamos lá na clínica e foram todos muito amáveis. Na sala de espera, você encontra de tudo: homens e mulheres nos mais variados momentos do tratamento. Eu cheguei toda serelepe, oi pessoal, tudo bem, e blá e coisa e tal. Achei que podia ler os pensamento dos presentes: puxa, ela não sabe o que vem pela frente....
Quem é mais ou menos da minha idade deve ter visto um desenho animado chamado bat fino. Era um morcego vestido com roupas de karatê cujo bordão era "suas balas não me atingem, minhas asas são como uma couraça de aço". Cheguei assim lá, e 2 horas depois saía mais para outro personagem de desenho animado, cujo bordão era: "oh vida, oh azar, eu sabia que não ia dar certo...". Foi muito triste. Tinha caído a ficha de que eu realmente estava com cancêr, e que minha vida estava nas mãos de outras pessoas, técnicamente eu não poderia fazer nada, e que à partir daquele momento os tumores ocupariam 80% da minha vida, ok, 90%, melhor, 95%. Todo o meu cotidiano giraria em torno deles.
Saí de lá zonza e com providências importantes para tomar: teria que colocar um cateter, fazer um monte de exames e marcar a primeira quimioterapia. Pedi para ser depois do meu aniversário, dia 09/07. Ok, é o tempo dos exames, seria isso mesmo.
Saí de lá, e em casa evitei minha filha, fugi da minha mãe e da Rai (minha "governanta" e amiga) e me tranquei no quarto. Chorei, chorei, chorei, e me dei conta da minha vulnerabilidade. Minha cabeça não parava, tive os piores pensamentos naquela noite, me senti um ser pequenino, frágil, desprotegido, injustiçado, que o resto da minha vida conviveria com esta faca na cabeça. Cansada e sem conseguir dormir, tomei um remédio e apaguei.
Naquele dia, tenho certeza, acabou mais um pouquinho da minha inocência.
Minha convivência e batalha com e contra o câncer, tinha realmente começado. E como diz a Zilda, não poderia queimar óleo 90 na largada.
Era o dia 12 de junho de 2008, dia dos namorados, e eu tinha acabado de conhecer uma pessoa por quem me apaixonei perdidamente naquele dia: Eu mesma.

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