sábado, 18 de outubro de 2008

1.O primeiro diagnóstico a gente nunca esquece!

Maio de 2008.
Tinha acabado de levar um pé na bunda e estava tomando aquelas resoluções clássicas! Cortar o cabelo, comprar umas roupinhas baratas e diferentes, trocar alguns móveis de lugar para não ver o fantasma do ex circulando pela casa, ligar para os amigos que você não via há tempos porque estava muita apaixonada, lavar o tênis para andar na Lagoa e queimar alguns quilinhos extras que sobram depois de uma relação estável, ir ao dentista para ficar com o hálito refrescante e os dentes brilhantes, e ir ao ginecologista dar uma geral no estilo "lavou tá novo"!
Minha médica, Oi Clélia, ok, não esquece de trazer os exames antigos, ok? Beleza. Duas semanas depois e três cancelamentos. Os exames de sempre, ai que saco, ainda bem que tem laboratório perto do escritório, ótimo vou de bicicleta e aproveito faço um exerício,etc, etc. Mais duas semanas depois e está tudo muito bem, está tudo muito bom, mas, nam, nam, nam, nam, vamos fazer uma ultrasonografia, não estou gostando disso aqui, olha só, 8 meses que você não fazia, agora mais rápido por favor. O apressado come cru, mas o descansado passa fome! Oi Claudinha (minha ginecologista) vou mandar deixar aí os exames e dou uma passadinha depois, ok? Telefone: a neurótica da minha ginecologista, graças aos céus, zelosa, liga e diz: acho melhor você dar uma passada aqui e com tempo. Quando sua médica diz que precisa falar com você com tempo e isso não parte de alguém que quer esticar o programa, fique alerta! na maioria das vezes é papo sério. Não tem chopinho no final e muito menos ela quer discutir a relação.
03 horas depois da consulta, já tinha dado mais 50 googladas, tentando entender o mundo maravilhoso dos termos médicos.
02 dias depois mais exames e menos concentração nas compromissos agendados na semana.
03 dias depois, um pouco mais pobre porque o plano de saúde não cobria determinados exames (quis economizar em outro momento), e mais atarantada com a rapidez dos acontecimentos, PÁRA TUDO!
Oi Guru (como me refiro ao meu médico de plantão particular) está acontecendo isso, isso e aquilo, o que você acha? Me indica um mastologista, por favor. Por causa da influência do mesmo, o que só tinha data em agosto abre uma brecha na agenda.
Dessa vez, na companhia da amiga mais prática, objetiva e pragmática, é, parece que é, vamos aprofundar o caso, mais exames.
Ressonância Magnética e R$ 1000,00 reais mais pobre, e desta vez na companhia da mãe, resultado em 05 dias. Pimba.
Não é um, são 03.
Merda.
Mais exame, biópsia, qual é o tipo, corpinho, densidade, cpf, identidade, se eles são apressadinhos, se estão acomodados, enfim, vamos encarar o bicho.
Ah, e mais R$ 1500 reais mais pobre.
Foi a pior espera da minha vida. Não dava pra pensar em mais nada, nem um chopinho de happy hour , nada. É praticamente impossível falar besteira numa hora em que se espera um diagnóstico como este.
Volta no médico, desta vez com a tia e a mãe. E nenhum compromisso profissional agendado na semana. Já sabia o resultado e só esperava uma explicação, um milagre ou o grau de gravidade.
Puta merda, porque comigo? Fui uma boa aluna, sou uma boa filha, boa mãe, amiga, nunca fiz mal a ninguém (que me lembre), faço feira orgânica, dou cesta básica no Natal, digo com licença, por favor e obrigada. Sou do signo de câncer, tudo bem, mas o que uma coisa tem a ver com a outra?
Teto preto, silêncio, estátua. Como ser forte com a mãe do lado? Posso ir ao banheiro, por favor?
Vamos lá Dr. o que fazer?
Como disse antes, o apressado come cru, mas o descansado não come! Vamos ser rápidos, positivos e operantes: Você conhece um oncologista?
Eu realmente estava com câncer, e, para quem odeia filme de terror e supense, imagina só o tamanho deste C-Â- N-C-E-R.
Ia agora começar um novo momento. Teria que ser prática e objetiva, afinal de contas tenho uma filha de 12 anos! Tinha que resolver o plano de saúde, contar para as melhores amigas, bla, blá, blá.
Quando comecei a me livrar da burocracia é que caiu a ficha: caralho, e agora, o que eu faço?
Chorei e chorei e chorei, até ficar com o nariz muito entupido e os olhos muito inchados. Queria ficar sozinha, e sofrer tudo de uma vez ali até a última ponta até esgotar. E esgotou. Dou umas choradas de vez em quando, normal, mas não fiquei, como nunca fui, uma pessoa chorosa.
Sempre que ouvia falar de câncer era aquele pavor. Meus pais perderam um casal de melhores amigos com câncer, mãe de amiguinho da escola, pai de namorado, era um rastro digno de faroeste. Sabia que não era mais assim.
Comecei um novo momento.
E esqueci de dizer que minha mãe e minha tia acharam meu mastologista um gato. É que elas não conheciam ainda o meu oncologista.

Um comentário:

bernardo nort disse...

quando vi que logo ESSE post nao tinha nenhum comentario... me senti na obrigaçao de escrever alguma coisa. primeiro que é notavel e deve ser ressaltada a forma essepcional como vc escreve essas cronicas que, melhor se encaixariam num drama,porem,estarem na forma de comédia tragica! ( ou pelo menos de uma forma bem humorada ). do mesmo jeito que eu, um belo dia, amanheci com uma dor de barriga que se agravou e no final descobri q tinha q fazer uma CIRURGIA DE APENDICITE ( oq nao é nada grave),de uma hora para outra, fiquei assustado como qualquer desinformado, me senti familiarizado com a surpresa. escrivi um pouquinho aquele dia... sobre aquele dia... coloquei o meu coraçao na mesa e contagiei alguns desconhecidos q passaram pela mesma situaçao.contudo, vim prestigiar a coragem, força, fé e amor que sao postos a prova nesse infortuno acaso que o destino preparava pra sua historia. quero gritar para deus, o mundo e para os internaltas que voce passa bem... que vive normalmente e ESTA SOLTEIRA ( aos interessados ) (rs). por fim, aproveitando o fato da internet eternizar as nossas palavras; bons ventos para as suas velas. amém